quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

As Pedras de Elementra - Origem 02


Δ. Ingo, o artesão do Vácuo


O quê são escolhidos?
Seriam pessoas melhores que outras? Pessoas mais especiais? Ou, então, seria o oposto? 
Algumas pessoas creem na teoria das pessoas serem escolhidas. Nascidas com um propósito. Albert Einstein teria sido escolhido para herdar tamanha inteligência? Hitler teria sido escolhido para gerar tamanha maldade? Os seres humanos teriam sido escolhidos para ser a espécie dominante? Coelhinhos poderiam ser os manda-chuvas do pedaço, em outra realidade.
Irei diretamente ao ponto.
E quanto a mim? Dentre tantas pessoas, com melhores capacidades e dons, por que justo eu fui selecionado?
Meu nome é Ingo Nova H.O.P.E e eu fui escolhido por... sabe-se lá o quê, para ser o herdeiro de um imenso poder. O poder do vácuo.
Normalmente, o vácuo é a ausência de matéria. Para mim, para minha tribo, ele é muito mais que isso. É uma força de poder passada de geração em geração. 
A tribo H.O.P.E (Habitat de Origem à Proteção do Elementra) é um pequeno vilarejo onde são treinados os futuros guardiões do Elementra, ou então os futuros soldados que se juntarão ao grupo Grand Elementra, ou qualquer outra filial.
E essa é a história de como eu acabei nesse grupo.


- - -

Desde o momento em que nasci, eu só conheci um único lugar. Neste lugar eu vivi, cresci e me preparei para a vida lá fora. 
Este lugar era um tribo chamada H.O.P.E, localizada em uma área isolada do mundo. Uma zona florestal onde os únicos habitantes são animais, plantas e, obviamente, os moradores da tribo. 
Durante todo esse período de minha vida, morei com meu pai: Eithan Nova H.O.P.E.
Ele sempre foi meu herói, durante todos os momentos. E ainda é.

-Vamos, Ingo! Você consegue! - meu pai encorajou.

Como sempre, ele estava lá, presente. 
Para mim, uma criança de, nesse momento, seis anos, que nunca teve a oportunidade de conhecer sua mãe, a atenção de meu pai foi extremamente importante. 
Minha mãe não conseguiu suportar, mas conseguiu me trazer ao mundo. Nesse momento de minha vida, eu acreditava que mamãe estava lá fora, em algum lugar. Haviam mentido para mim sobre sua morte. 
Em alguns anos eu descobri a verdade. Mas não tive coragem de me zangar com ninguém por ocultarem esse fato tão doloroso.

-Suas habilidades estão progredindo cada vez mais. Sei que um dia você conseguirá dominar o seu poder. - meu pai sorriu enquanto bagunçava meu cabelo.

Eu dava tudo de mim para concentrar o poder de criação do vácuo, mas obtinha nada mais além de fracassos. Porém, quanto mais eu tentava, mais minha energia se manifestava. Meus olhos e mãos brilhavam intensamente nos treinos, indicando a potência da energia do vácuo dentro de mim, por mais que eu não possuísse a técnica para a ativar.

-Estou cansado... - confessei.

-Tudo bem, Ingo. Você trabalhou duro hoje, merece um descanso. 

-Podemos comer agora? - pedi.

-Mas é claro! - meu pai se levantou.

Estávamos sentados um de frente para o outro, enquanto meu pai me dava dicas para como manusear o vácuo.
Nesse momento, eu vestia uma camiseta branca com a escritura H.O.P.E no centro, em letras verdes, e uma calça comum. Já meu pai, Eithan, vestia uma camisa cinza sem mangas, uma de suas favoritas, também com a escritura com o nome da tribo, porém com a coloração preta, e uma bermuda curta preta. 
Eu e ele eramos bastante parecidos. As cores de nossos cabelos eram praticamente idênticas - um loiro fraquíssimo, quase branco. O que nos diferenciava eram nossos olhos. Devido ao poder do vácuo, meus olhos são verde fluorescentes. Um pequeno "efeito colateral". Enquanto isso, os olhos de meu pai não possuem todo esse brilho, embora possua a mesma cor primária. 

-Alguma notícia da mamãe? - perguntei, inocentemente.

O sorriso no rosto de meu pai permaneceu. A parte debaixo de seu rosto era coberta por uma curta barba loira.

-Desculpe, Ingo, mas não tenho novas notícias dela. - meu pai disse.

Era uma verdade encoberta em uma mentira. Ele realmente não tinha novas notícias. Ninguém nunca mais teria. Entretanto, eu não sabia disso.

-Meu aniversário está chegando, não é mesmo? - corri para dentro de nossa casa.

Era um local pequeno. Uma cabana cinza com quatro cômodos - um quarto, um banheiro, uma sala e uma cozinha. 
A vila ficava no meio da floresta, mas com o uso combinado da magia dos líderes foi possível construir habitações semelhantes as das cidades comuns, além de distribuir luz e água para todos.

-Quem sabe ela apareça esse ano, não é mesmo? - meu pai adentrou a porta e a fechou logo atrás de si.

-Sim! - eu respondi, esperançoso.

-Sei que ela vai ficar orgulhosa ao ver você, Ingo! Daqui a pouco você estará dominando completamente o poder do vácuo, e poderá fazer coisas incríveis! 

Fomos para a cozinha.

-Não temos muito tempo hoje, Ingo. As pessoas sugeriram que as crianças durmam cedo hoje. - meu pai explicou.

Sua postura alegre continuava intacta. Eu sempre admirei o modo como meu pai sempre sorria, mesmo em momentos tristes. Ele distribuía uma aura de felicidade que comovia a mim e a todos à sua volta.

-Podemos sobreviver por hoje com alguns sanduíches, certo? 

Respondi afirmativamente com a cabeça e sentei em um banco, enquanto meu pai preparava a comida.

-Por que preciso dormir mais cedo hoje? - perguntei, aborrecido.

-Há uma reunião hoje, preciso comparecer. - meu pai bocejou - Essas coisas são sempre tão chatas. Você tem sorte de ficar em casa dormindo.

Eu costumava não aceitar o fato de ser excluído das reuniões e afins, mas dessa vez, algo me dizia para aceitar a situação, e foi o que fiz.
Após meu pai terminar a preparação, jantamos em silêncio. Após isso, escovei meus dentes. Durante esse processo, meu pai bagunçava o armário do quarto que compartilhávamos.

-Eu preciso me vestir um pouco mais adequado pra isso, sabe? - meu pai gargalhou, nervoso - Socorro.

Ele estava embolado em uma série de camisas.

-Gomo bez isso? - perguntei, com a boca cheia de espuma de pasta de dente.

Limpei-me e corri para ajudá-lo.

-Depois de te ajudar, eu deveria ir com você! - resmunguei.

-Ingo... - meu pai suspirou.

Eu o ajudei a desembaraçar as camisas e separei um traje mais adequado para a reunião.

-Por que é necessário vestir você assim? - indaguei.

-De vez em quando eles gostam de criar treinamentos surpresa. Nunca se sabe quando é preciso lutar. - meu pai tirou sua camisa sem mangas - Pode procurar a armadura?

Corri pela casa, à procura da armadura. Eu a encontrei jogada na cozinha.
"Nem mesmo a percebemos aí antes..."
Quando retornei ao quarto, ele estava sentado na cama de baixo de nosso beliche, vestindo um conjunto de roupa feitos de uma fibra especial, muito mais resistente que as normais e à prova de fogo, ácido e eletricidade.

-Essa coisa coça. - meu pai resmungou.

-Aqui está. - eu alcancei a armadura.

Ela era muito leve, porém resistente. Eu que a havia "construído". Certo dia, eu invoquei essas peças uma atrás da outra. Meu pai pediu para profissionais analisarem, e é de alta qualidade. Com certeza um produto feito por um artesão do vácuo.
Porém, ainda não controlo meus dons. É o mesmo de sempre. 
Meu pai terminou de vestir a armadura.

-E aí? Como estou? Está tudo certo? - meu pai rodou algumas vezes, olhando para todos os cantos da armadura, em busca de algumas falhas - Nossa, é mais leve do que eu lembrava! Bom trabalho, Ingo.

Eu sorri, demonstrando completamente o quanto eu estava convencido.

-Hey, não se ache demais! Vai acabar estragando seu caráter. - meu pai brincou.

-Eu não posso mesmo ir? - perguntei, hesitante.

Meu pai parou para pensar um pouco, chateado.
Segundos depois, ele ergueu a cabeça e revelou um sorriso.

-Vamos fazer um jogo, então. - meu pai sugeriu.

-Jogo?

-Sim. Uma aposta. Eu vou na reunião e voltarei o mais rápido possível. Você precisa... - ele olhou ao redor - subir e descer o beliche cem vezes seguidas, dar cinquenta socos exatamente centro do alvo no saco de pancada, a ponto de afundar o alvo, - ele apontou para um saco de areia preso ao teto por uma corrente, no canto do quarto - , fotografar um inseto bem de perto, correr por todos os cômodos da casa duzentas vezes e comer o último pote de sorvete da geladeira, tudo isso antes de eu voltar. 

-O quê?! Como vou fazer tudo isso?! - protestei.

-A reunião pode demorar, sabia? Você tem bastante tempo. Você pode fazer várias pausas para descansar durante o tempo. Se eu chegar antes de você completar tudo, eu venço. - ele explicou.

-E caso eu vença?

-Daí... Hm... - meu pai procurou por algum prêmio ao redor.

-Podemos pedir aos magos da vila para tentar localizar a mamãe? - perguntei, empolgado.

O sorriso de meu pai ameaçou desaparecer.

-Sim, claro. Podemos.

Vibrei de alegria.

-O seu prazo começa assim que eu sair de casa. - meu pai caminhou até a sala de estar e pôs a mão na maçaneta.

-Voltarei o mais rápido possível, viu? - meu pai pressionou, abrindo a porta - Pronto?

Peguei a câmera fotográfica na mesa da sala de estar. Tínhamos uma sempre a mão, pois gostávamos de fotografar momentos marcantes e engraçados que vivíamos. Meu pai tirava uma foto engraçada de cada objeto que eu conseguia criar a partir do vácuo. 

-Manda ver! - fiquei atento ao campo aéreo da sala, a procura de algum inseto.

-COMEÇOU! - meu pai saiu e fechou a porta.

"Vencerei! Por você, mamãe!"


...

Meia noite, marcava o relógio.
Eu estava deitado na grama, olhando o luar. 
Das tarefas impostas, só faltava tirar a foto, acertar mais alguns socos - não se preocupe, o saco de pancadas era preparado, ou seja, não era necessário grande quantidade de força para tirar sua forma, mas do mesmo jeito era o bastante para cansar - e terminar o sorvete.
Meu pai havia deixado a casa à três horas atrás. Normalmente, as reuniões não ultrapassam uma hora.

-Pai, você está demorando. - eu disse para mim mesmo - Vai acabar perdendo.

Repentinamente, comecei a ouvir vozes vindas de trás de mim. Eram crianças gritando.
Furtivamente, esgueirei-me ao redor da casa e observei a casa mais próxima.

-NÃO, NÃO, NÃO! PAPAI! - a criança gritava.

Era Yago, um mago em treinamento especializado em magias climáticas. Uma luz branca cobriu todo o interior da casa, escapando pela porta escancarada e janelas.

-O que está acontecendo? - sussurrei para mim mesmo.

Mais gritos ecoaram. Esgueirei-me para o outro lado da casa, para ver outras casas. As crianças gritavam em desespero. Não conseguiam reagir a seja lá o que estivesse dentro das casas.
E, ao longe, eu via fogo. Muito fogo. Vindo da direção da longa construção onde as reuniões eram executadas. Eu conseguia ouvir espadas colidindo umas contras as outras. Era um som muito baixo.
"Pai..."
Eu sentia que devia ir até lá e ajudá-lo, mas como? Eu era uma criança tola. Sem força, inteligência, armas, armaduras... 
E então, enquanto encarava a situação horrenda a minha frente, eu o vi. Alguém marchava na direção de minha casa. Eu não conseguia ver seu rosto, mas ele vestia uma armadura pesada e carregava consigo um enorme machado de lâmina dupla.
Segurei minha respiração e corri para os fundos da casa, onde eu esperava que ninguém me encontrasse.
Ouvi uma batida. Ele havia, provavelmente, quebrado a porta de minha casa e forçado sua entrada.

-Ô de casa? Papai chegou. - ele riu, histericamente.

"Você não é o meu pai... monstro..." fechei minha mão com força.

-Pode aparecer, criança! - eu conseguia ouvir seus passos dentro da casa - APAREÇA!

Seus passos continuavam. Eles vinham em minha direção. 
"Ele não pode me ver. Não pode"

-Eu sei que está aí! 

Seus passos pararam.

-Certo, não está aqui...

Suspirei de alívio.
E então...
Meu coração parou. A lâmina de seu machado atravessou a parede onde eu estava escorado, a pouquíssimos centímetros de minha orelha.
Assustado, minha voz falhou. Não produzi um único som.
A lâmina lentamente voltou para dentro da casa, deixando uma fenda na parede e um garotinho assustado.

-INGO! INGO! - uma voz gritava.

Vinha na mesma direção das chamas.
"Essa voz... Pai!"

-INGO, ONDE ESTÁ VOCÊ?!

Com o coração na mão, corri ao redor da casa. 
Entrei em choque, novamente, ao ver a cena. Meu pai estava com o braço ferido. Seu cabelo loiro estava pintando de vermelho - pintado de sangue - e estava chamuscado. O lado direto de seu rosto estava igualmente coberto de sangue.
A pessoas com o machado encarava meu pai.

-Eithan Nova, que honra! - o homem disse - Bela casa essa sua. 

-Cadê o Ingo? ONDE ESTÁ O INGO? - meu pai ergueu seu punho.

-Uh? Eu não o encontrei. Meu plano era torturar você para o encontrar. Vai se render sem luta, como um bom pai, não é mesmo? - o homem apoiou o machado em cima de seu ombro.

Meu pai abriu um sorriso.

-Conhecendo meu filho, sei que ele está bem. Não posso dizer o mesmo de você.

-O quê quer dizer?

O olho esquerdo de meu pai cintilou.

-Eu posso não ser agraciado com o poder do vácuo, como meu filho. Mas ainda sou da mesma linhagem! - meu pai correu na direção do homem do machado.

-Lá vem mais um... 

O homem preparou seu machado. Raízes começavam a se erguer da grama.
Minhas mãos ficaram quentes. Algo estava para ser criado pelo vácuo.
Eu senti uma descargar elétrica passando por todo o meu corpo. Aproveitei a chance e concentrei todos os meus sentimentos em minhas mãos. Uma imagem surgiu em minha mente. Era uma espécie de lança que eu nunca havia visto.

-Vácuo, faça deste item uma fonte de poder. - sussurrei - Faça deste item uma fonte de força e perseverança. Faça deste item algo que possa salvar meu pai.

Ergui minhas mãos. Uma longa linha de luz branca surgiu sob minhas mãos. Aos poucos, elas se moldou e moldou. Um mastro, uma lâmina... A lança foi criada com perfeição.
Ela era incrivelmente leve. 
"Não tenho medo!" eu disse para mim mesmo.
Lembrei das palavras que meu pai costumava dizer, quando eu tinha pesadelos: Filho, você não teme os pesadelos. Você teme sua incapacidade de vencer os pesadelos. Você sabe a maneira de vencê-los, não é mesmo?

-Sorrir. - completei, avançando alguns passos - Acreditar em sua própria força e traçar um objetivo.

Meu pai se aproximava das raízes.

-Meu objetivo é proteger meu pai e amigos! 

Meu pai apontou seu braço bom na direção do inimigo, enquanto continuava a correr.

-Explosão de poeira! - meu pai conjurou.

Um círculo foi traçado ao redor do inimigo. Uma nuvem de poeira surgiu ao seu redor, explodindo logo depois.
Neste momento, as raízes atacaram meu pai.

-PAI! - eu chamei.

Imediatamente, meu pai mudou seu olhar para mim.

-INGO, FUJA! - ele respondeu, pulando para trás, fugindo do golpe das raízes.

Elas continuaram a surgir e se multiplicar, seguindo meu pai.

-Então aí estava você. - o homem bateu seu machado com força no chão, dissipando a poeira. 

Ele parecia um pouco cansado, mas sem danos corporais.

-Eu estava te procurando. 

Apontei a lança para ele.

-Uma alabarda? O que uma criança de... qual sua idade mesmo? Bem, não importa. O que uma criança fará com uma alabarda? Cutucar minha armadura?

Sua armadura escarlate brilhava à luz do fogo.

-Eu vim para capturar você, mas eu não gosto da sua família, então resolvi matar você. - ele apontou seu machado para mim.

Eu me forcei a sorrir. Eu sentia muito medo, mas não podia deixar ele perceber isso. É o que meu pai faria.

-INGO, EU DISSE PARA FUGIR! - meu pai gritou.

Ele explodia as raízes e corria para perto quando conseguia, mas acabou ficando encurralado.
Uma nuvem de poeira cobriu ele e as raízes. Após uma explosão, ele correu em nossa direção.

-Sabe o que é interessante no meu serviço? - o homem perguntou - Quando um pai quer proteger um filho, ele fica cego.

"O quê?"
Movi meus olhos ao redor. Havia uma grande quantidade de raízes no chão logo a frente. Meu pai estava tão concentrado em mim que não as via, camufladas na grama.

-PAI, NÃO! - eu tentei avisar.

-EU PROTEGEREI VOCÊ, INGO!

-NÃO! - meus olhos lacrimejaram.

Meu pai continuou a correr.
Ele pisou em uma das raízes. As demais foram disparadas, executando meu pai. 
Vi as raízes atravessando seu corpo, atravessando sua armadura como se fosse feita de papel.
"Não era forte o bastante para aguentar um golpe direto..."
"Ele se distraiu por minha causa..."
Caí de joelhos no chão, traumatizado.

-Foi culpa sua, você sabe. - o cara de machado falou, caminhando em minha direção - Só venha comigo, está bem?

-Tá... 

-Você aceitou? Nossa, isso é inesperado. Fico feliz que possa te levar sem problemas. - o homem parou ao meu lado.

-...achando que sou idiota? - completei.

Reergui-me e golpeei-o com a lança, perfurando sua armadura em um ponto frágil.

-O-o quê? - ele estava surpreso demais para reagir.

Após o choque, ele agarrou minha lança.

-Sua alabarda não é boa o bastante. - ele retirou-a de seu peito - Eu não morrerei tão facilmente.

Ele jogou minha "alabarda" para longe.

-Tem certeza disso? 

Uma lâmina cruzou seu peito.
Atrás dele, meu pai sorria.

-P-pai? 

O inimigo caiu no chão, petrificado. Em outras palavras, ele não se movia mais. Ou seja...

-Membro da Grand Destruction bom, é membro morto. - meu pai cuspiu sangue.

-PAI! - corri até ele.

Ele caiu no chão. Seu corpo estava coberto de furos que atravessavam seu corpo.

-C-como está vivo?! Pai?! 

Ele tossiu.

-Se chama Espírito de Pó. - meu pai sorriu, tentando levar sua mão até minha cabeça, mas não possuía forças - A-antes de ser atingido, concentrei meu elementra.

-Seu... Elementra?

-Minha força vital, Ingo. - ele tossiu sangue novamente - Eu a concentrei em um ponto fixo e fiz uma projeção de meu espírito...

Olhei para trás. O verdadeiro corpo de meu pai continuava atravessado pelas raízes, morto.
O corpo que falava comigo começava a ser desintegrado.

-Pai! Não me deixe! - eu chorava, segurando sua mão - O que a mamãe vai pensar se você morrer?! Não pode morrer! Pai!
-Filho... Olhe... 

Alguém corria em nossa direção.

-Ajuda! Eles podem cuidar de você! 

Lentamente, meu pai negou com a cabeça.

-Temo que não haja mais tempo. 

Pela primeira vez na vida, o sorriso no rosto de meu pai... Ele me fazia chorar.

-Eles explicarão para você sobre o significado de H.O.P.E, o significado de elementra... - a voz de meu pai falhou.

Seu corpo da cintura para baixo havia sido desintegrado, havia se transformado em cinzas.

-Você está no caminho certo. Mais um pouco e você se tornará um grande artesão...

-Por que está dizendo essas palavras...?

-Ingo, eu tenho orgulho da pessoa que você está se tornado. Por favor... Não se afaste desse caminho.

-Não... Não...

-Eu me encontrarei com a mamãe e direi a ela o quão forte você é. O quanto seu potencial é imenso.

-PAI! 

-Ingo Nova H.O.P.E, meu filho... Eu amo você. Sei que sua mãe sente o mesmo. 

Sua cabeça agora era a única parte restante.

-Pai...

-EITHAN! INGO! - a pessoa que se aproximava correndo gritava.

A cabeça de meu pai se tornou cinzas. A pessoa que se aproximava correndo viu o corpo de meu pai preso nas raízes. Com lágrimas nos olhos, ela cortou as raízes ao mover sua mão como uma lâmina de espada. O corpo de meu pai flutuou, caindo lentamente no chão. As raízes desapareceram, mas os furos deixados... ainda estavam lá.
Corri na direção de meu pai.
A pessoa que havia deslocado seu corpo era uma mulher. 

-Ingo, não se aproxime, é perigoso! Por favor, venha...

-PAI! - eu a ignorei completamente.

Debrucei-me no chão e segurei sua mão.

-Não consigo acreditar...

E gritei de dor a plenos pulmões.
A moça ajoelhou-se ao meu lado. 

-ALI ESTÃO ELES! - alguém avisou.

Mais inimigos estavam chegando. Todos armados.

-Ingo, precisamos ir. - a moça tentou me levantar, mas eu não permiti.

-Não vou deixar meu pai! Prefiro morrer com ele!

-Ele gastou seu último suspiro de vida para deixar você viver, não desonre seu sacrifício! - a moça brigou.

-Eu nem mesmo sei quem é você!

Após olhar para ela, vi sua armadura feminina e sua espada. Ela não cortou as raízes com um movimento mágico. Ela cortara com sua espada tão rápido, que eu nem mesmo consegui perceber sua espada.

-Por favor, Ingo...

-Estão cercados! - um dos guerreiros inimigos disse.

-DEIXE-ME! - gritei.

-Perdão, Ingo... - a moça agarrou minha mão.

Tudo ao redor desapareceu por uma fração de segundo. Quando percebi, estava segurando um punhado de terra.

-O quê você fez...?

-Eu salvei sua vida.

-Quem é você? Como fez isso? DEVOLVA MEU PAI! - eu implorei.

-Não podemos voltar lá, Ingo. - ela tentou ser sensível, mas não parecia boa nisso.

Antes de conseguir protestar, alguém chamou a moça, interrompendo-me.

-Raida! Você finalmente voltou! - um jovem de cabelo acinzentado e olhos azuis surgiu correndo.

Ele segurava uma espada semelhante a da mulher.

-Ingo, sinto dizer isso. A tribo H.O.P.E foi dizimada. 

"O quê?" o choque me impediu de pronunciar qualquer palavra. 

-Esta é a sede do Grand Elementra do Japão, o Majestic Elementra. Você foi o último que sobrou de H.O.P.E, Ingo Nova. 

Arrasado, permaneci abaixado no chão.
A mulher se aproximou e me abraçou.

-Eu sinto muito.


~~~

Os dias após essa notícia foram um inferno para mim. 
Eu levei tempo, mas consegui superar minha perda, sem esquecê-la. 
Meu pai sempre esteve presente em minha vida, e agora eu o mantenho presente em minhas memórias. 
O tempo me trouxe amigos e pessoas com quem eu posso confiar. 
Em honra a tribo H.O.P.E, Habitat de Origem à Proteção do Elementra, eu, Ingo Nova, mantenho-me firme e vivo. O sacrifício de meu pai não foi em vão, tenho certeza disso. 
Dominarei o poder do vácuo e farei a linhagem continuar!
Mas, houveram complicações...

- - - - -

-O quê vocês farão depois da aula? - Gen perguntou.

-Eu estava pensando em entrar para algum clube... - revelei.

-Essa me parece uma boa ideia! - Merith levantou sua voz - Ops, desculpe.

-Você se deixa levar pelos sentimentos bem fácil, não é mesmo? - Sakura riu.

-Ei! - Merith protestou - Não é bem assim!

-Talvez tenha um clube em que todos possamos participar... - Gen refletiu.

Era nove horas da manhã. Havia uma pausa entre as aulas neste momento.
Meu pequeno grupo de amigos e eu conversávamos sobre nossos planos. Estávamos reunidos ao redor da carteira de Gen Nightmare Baku. Podemos classificá-lo como meu melhor amigo.

-Eu pensei no clube de fotografia... - confessei.

Sakura me olhou meio estranho.

-Esse clube não é misturado com o clube de ciências? Sei que eles gostam de fotografar insetos e outras coisas incomuns...

-Você gosta mesmo de fotografia, não é mesmo? - Merith notou - Tem algum motivo para isso?

Pensei. Estranhamente, eu não sabia o porquê do meu gosto por fotografias.

-Eu não sei, mas eu só gosto de fotografar. - dei de ombros.

-Inclusive insetos, não é mesmo?

-Bem, eu acho eles interessantes. São criaturas que não conseguimos admirar no dia-a-dia. Eles possuem tantos detalhes em seu corpo que nunca vemos por causa de seu tamanho. Através da fotografia, podemos admirar isso. - expus. 

-Isso pareceu um pouco nerd... - Sakura notificou.

-Bom, cada um tem seus gostos. - Merith sentou-se na cadeira mais próxima - Mas eu quero passar longe desse clube, obrigada. 

-Já que estamos falando de manias estranhas do Ingo... - Gen abriu um sorriso malicioso.

Eu o cutuquei.

-Estou brincando, calma. - Gen soltou uma gargalhada.

-Olha só, Merith. Conseguimos fazer os dois se abrirem um pouco. - Sakura levantou a palma de sua mão.

Merith bateu sua palma com a dela.

-A dupla mais séria do colégio sabe demonstrar sentimentos agora, é um progresso.

-Parem com isso. - protestei.

Conversamos até o sinal tocar. Após isso, tivemos mais aula.
Eu e Gen somos conhecidos por não demonstrarmos muitas emoções, mas posso garantir que é somente aos olhos do público. Somos relativamente tímidos, afinal.
E, quanto as manias que Gen iria citar caso não fosse interrompido, ele mencionaria algumas atividades noturnas que faço diariamente. Não sei quando isso começou, mas meu dia não fica completo sem isso. 
Ao fim de cada dia, preciso praticar socos algumas vezes - e para isso eu possuo um saco de pancadas em meu quarto - e verificar se não há nada do outro lado da janela - mas isso é culpa da minha fobia de ser observado por... bem... não importa o que é, prefiro não falar sobre.

-Hey, Ingo. - Merith sussurrou.

Meu corpo se arrepiou. Ela cutucou meu pescoço de um momento para o outro. 
"Merith quer falar comigo? Diretamente comigo? No meio da aula? O que será que eu posso fazer por ela?"

-S-sim? 

-Minha borracha caiu. - ela apontou.

"Ah, claro."
Alcancei a borracha para ela.

-Obrigada. - ela sorriu.

Senti meu rosto ficar quente.

-Ingo?

Virei meu rosto de volta para a lousa. A professora copiava um texto sobre regras de português e erros mais comuns cometidos por alunos.

-Ta tudo bem? - Merith perguntou.

-Aham... - suspirei.

"Algum dia."
"Algum dia..."

sábado, 12 de dezembro de 2015

As Pedras de Elementra - Origem 01

. Maya e a Gema de Água 

-Eu tenho inveja de você, Maying! - Elizabeth disse.

-Inveja? Não vejo como. - murmurei, revirando os olhos - E eu já disse para não me chamar de Maying. Meu nome é Maya.

-Isso é bem óbvio... - Eyerin interviu, tímida como sempre - B-Basta olhar para você... Suas atitudes... Seus cabelos tão perfeitinhos...

Eu encarei minha amiga por um momento, expressando dúvida. 
Estávamos no meio de uma aula de filosofia. A professora - uma irresponsável - não compareceu. Todos da classe fizemos o mais óbvio possível numa situação dessas. Abandonamos a sala de aula e fomos para o pátio matar tempo. 
Eu e minhas duas amigas, Elizabeth e Eyerin, nos apossamos de um lugar abaixo das árvores e começamos a conversar. 

-Fala sério. - suspirei - Só temos uma pequena diferença de coragem, nada demais.

-É fácil dizer isso quando se é a mais admirada pelos rapazes, não é mesmo, Maying? - Elizabeth riu maliciosamente.

-Você tem problemas, Elizabeth. - bufei - Eyerin, você é racional. Diga a ela que toda essa conversa é furada.

-Eu concordo com ela, M-Maya... - Eyerin se escondeu debaixo de seu capuz.

-Motivos? 

-B-Bem... Como mencionei antes... Seus longos cabelos negros são p-perfeitos! Nem mesmo sofre de pontas duplas... - Eyerin então segurou suavemente uma parte de seu cabelo loiro escuro e os acariciou com a mão - F-Fora sua coragem inigualável. Todos a respeitam e gostam de você... 

Desejei não ouvir mais daquela baboseira.

-Todos me temem, Eyerin. E com razão, aliás. Bando de idiotas, imprestáveis. Vocês são as únicas pessoas decentes por aqui.

Elizabeth abraçou-me.

-Também te amamos, Maying! Venha você também, Eyerinny!

-Não sou chegada a abraços, Elizabeth...

-Não seja tão anti-social, Eyerinny. - Elizabeth resmungou.

Todas estávamos vestidas de acordo com as normas da escola: um uniforme nas cores verde e branco. Eu usava uma camisa de mangas curtas e uma calça jeans, enquanto Elizabeth vestia por cima de sua camisa um casaco de verão, o oposto de Eyerin, com seu casaco de inverno. Ambas usavam as calças típicas da escola. 
Eu particularmente não as suporto, então não as uso. Não há diretor ou supervisor que ousa reclamar comigo sobre o uso de calças adequadas, então por que não?
Eu possuo, como mencionado, cabelos compridos e escuros, sim. Além disso, meus olhos são do castanho mais escuro possível - é o que dizem todos aqueles que me conhecem - e minha pele é um pouco clara demais. Motivo? Não sou fã de tomar sol. 
Elizabeth possui olhos azuis cintilantes e cabelos castanho-claro na altura de seu ombro. Ela é o único pedaço de brilho ambulante que eu aguento e gosto. 
Já Eyerin, possui inocentes olhos verdes. Seus cabelos loiros escuros são longos, e geralmente estão presos em uma grande trança. Ela é com certeza a pessoa mais tímida e fechada que conheço. Ela me faz querer protegê-la.

-Já pode me largar, Elizabeth. - tossi, tentando alertá-la.

-Ah, vaaaamos! Não seja assim. Não guarde este belo corpo só para você. - ela brincou, abraçando-me mais forte.

"Ela acabará me sufocando" pensei.

-É sério, já pode largar. Respirar não é mais tão fácil... 

Com um murmúrio de lamentação, ela me largou e se afastou.

-Obrigado. - recuperei minha respiração.

-Mas eu falei sério sobre não guardar esse belo corpo. - Elizabeth riu.

-É melhor que esteja brincando...

Ela tremeu e se jogou para trás.

-Oh, não! A grande Maya destruidora de corações vai fazer algo terrível comigo, estou apavorada! - ela dizia dramaticamente.

Algumas pessoas próximas olharam em nossa direção. Meu olhar ameaçador foi o suficiente para dispersar sua atenção de meu pequeno grupo.

-S-Seja menos escandalosa, Elizabeth! Por favor... - Eyerin quase elevou sua voz.

Normalmente é possível confundir suas falas com sussurros, pois o volume de sua voz é consideravelmente baixo.
Após o fim do surto de Elizabeth, fomos jogadas em um estranho silêncio. 

-Eu gosto desse silêncio. - Eyerin comentou - É relaxante. 

-Talvez um pouco de calmaria seja algo bom em nossa movimentada vida de colegiais, não é mesmo? - Elizabeth sentou-se em uma posição mais confortável.

Eu estava escorada em uma árvore, observando enquanto uma folha caía. Eu a acompanhava calmamente com meu olhar. Tudo corria bem para nossa pequena protagonista folha, apresentando sua incrível peça de queda impactante, quando de repente um vento incrivelmente forte soprou, levando-a para longe. 
Aos poucos, o céu, antes azul e com poucas nuvens, tornou-se cinzento e ameaçador. Senti algo ruim prestes a acontecer.

-Ficou frio de repente. - Elizabeth se abraçou.

-Heh. - Eyerin abriu um sorriso, sentindo-se superior.

Ela aumentou o abraço que estava dando em seu casaco, esfregando na cara de Elizabeth sua proteção quentinha de tecido.

-Você pode ser bem cruel, Eyerinny. - Elizabeth choramingou.

-Meninas, temos companhia. - eu alertei ao notar a presença de mais pessoas.

Era um grupo de cinco pessoas.
Inicialmente, estávamos sentadas na grama, dentro de um grande espaço circular habitado por árvores. O local aonde nos encontrávamos ficava próximo da delimitação da área circular. Próximo de nós havia o ginásio esportivo. Um pouco mais além, o prédio da escola. 
Reparei que somente eu e minhas amigas e, claro, os intrusos desconhecidos, éramos as únicas pessoas em todo o pátio. Provavelmente os demais grupos haviam retornado ao prédio principal, devido ao mau tempo.
Eyerin foi a primeira a se levantar, devido a estar mais próxima dos desconhecidos.
Elizabeth seguiu sua reação e estendeu sua mão para mim. Eu a agarrei e levantei em um pulo.
Analisei os desconhecidos. Das cinco pessoas, duas eram meninas e três eram meninos. Os garotos pareciam o tipo de rapazes populares que gostam de ter atenção. Um deles usava um estilo de cabelo exagerado, um topete que para mim nada mais é do que ridículo. Outro usava uma camisa sem manga, tentando mostrar seus "músculos" - convenhamos que não é lá algo muito diferente dos demais garotos. Já o terceiro, aquele no centro de todos, era notavelmente mais alto e mais encorpado que os demais, do tipo que colocaria medo em qualquer um. 
"Uma dica para você: eu não posso ser amedrontada."
As duas meninas ao lado do garoto central eram sem importância. Mal olhei para elas, porém, mesmo olhando pouco, eu consegui notar sua maquiagem brilhante e seus cabelos presos em rabos de cavalo.
"Como essas meninas conseguem usar maquiagem tão pesada logo de manhã?"

-O quê querem aqui? - confrontei-os diretamente.

Pela situação, eu conseguia notar que algo sairia errado. 
Pude notar a força do vento sendo intensificada cada vez mais. Um grande temporal estava para acontecer.

-Maya, acho melhor sairmos daqui... - Eyerin segurou minha mão e apontou para o prédio principal.

-Claro, Eyerin. Só espere eu resolver esse assunto aqui. - após a última palavra, voltei a encará-los - Não dirão nada?

O grandalhão resolveu falar.

-Eu sou um aluno transferido. Meu nome é Alejandro. - ele se apresentou - Há um boato por aí de que a "autoridade" por aqui é uma garota chamada Maya. Esta é você, não é mesmo?

-Entendo. Veio prestar o seu "longa vida à rainha"? Estou lisonjeada, mas basta nunca mais entrar em meu caminho. 

Seu olhar foi lentamente ficando mais e mais sério. 

-Você quer demarcar território? Nossa, que coisa mais infantil da sua parte. - segurei a mão de Eyerin e de Elizabeth - As pessoas inventaram essa história de "Maya manda no pedaço", grandalhão. Quer um título de nobreza? Volte à Idade Média e compre um. Eu não tenho título algum em minha posse.

Junto de minhas amigas, tentei caminhar de volta para o prédio principal, entretanto, fomos impedidas. Os dois garotos restantes se colocaram em nosso caminhos.

-O quê foi agora? - rosnei.

-Você nos deve, Maya. É hora de pagar. - uma das meninas irrelevantes disse.

-Hey, Eyerin, você que tem boa memória... Eu conheço algum deles? - sussurrei para minha companheira.

-COMO PODE DIZER ISSO DE NÓS?! - a outra menina irrelevante interviu.

-Maya, você já brigou com todos aqui, com exceção de Alejandro, claro. - Elizabeth respondeu, cortando a fala de Eyerin.

-Oh. - exclamei - Então eu não deveria reconhecer eles?

-Sua mente é algo... confuso. - Eyerin esclareceu.

"Verdade." 

-Parem de enrolar e digam logo o que querem, Alejandro e companhia. - pedi, estressada.

-Queremos vingança! - o garoto desesperado por atenção gritou.

-Tá, mais alguma coisa?

-Você deve sofrer a mesma humilhação que sofremos! - o garoto de cabelo exagerado apontou na direção de minha cara.

Dei uma cabeçada em seu dedo.

-Não é educado apontar para as pessoas. 

Soltei as mãos de minhas amigas e me virei para elas por um momento.

-Fiquem de fora. Corram para a escola, eu dou um jeito nisso. Diplomaticamente. - pedi.

-Mas, Maya, sua diplomacia envolve seus punhos! - Elizabeth choramingou - São cinco contra uma dessa vez, e aquele ali conta como três!

-C-Chamaremos um professor para ajudar! - Eyerin prometeu.

Logo após isso, Eyerin pegou o braço de Elizabeth e a puxou em direção da escola. As duas garotas sem importância empurraram minhas amigas para trás, jogando-as no chão. Senti gosto de sangue na boca instantaneamente.
"Vocês não têm DIREITO de tocar nelas."

-Afastem-se delas. Não vou repetir. - encarei-as.

-Não é com elas que você deve se preocupar, Mayazinha. - o garoto do cabelo exagerado disse - Alejandro, sinta-se a vontade.

Ele estralou as juntas de seus punhos.
Senti gotas de chuva em minha pele. A tormenta havia chegado.

-Vamos todos para dentro, por favor! - Elizabeth tentava se esconder da chuva, usando seu casaco como capa.

-Corram. Eu dou um jeito aqui. - sorri para elas.

Nesse meu pequeno momento de guarda-baixa, Alejandro socou minha barriga com força.
Curvei-me de dor.

-Então o novato é um grandalhão, um sem cérebro e um sem espírito também? Você me enoja. - voltei a minha posição inicial.

Corri em sua direção e tentei o acertar no mesmo local onde fui atingida. Ele quase não sentiu o golpe. Pelo contrário, ele gargalhou.

-Esperava um desafio maior.

Eu cuspi no chão a sua frente. 
"Vamos ver o que pode fazer."
Preparei-me para avançar em sua direção. Algo tocou meus dois braços. Os dois garotos restantes estavam me segurando.

-O quê? São tão covardes assim? Precisam de três para bater em uma menina indefesa, e ainda por cima imobilizando ela? 

Alejandro acertou outro golpe em minha barriga. 
A chuva tornava-se cada vez mais forte, começando a trazer uma sensação dolorosa ao contato com a pele.

-Vocês são patéticos.

Outro golpe.

-Vencer assim é muito mais constrangedor do que perder, sabiam? 

Mais outro soco. Ele repetiu o golpe várias vezes. Elizabeth e Eyerin tentavam ajudar, mas se encontravam presas pelas outras duas garotas. 

-Vocês são patéticos. - repeti.

-Só sabe falar, não é mesmo? - o garoto do cabelo zombou.

-Maying! - Elizabeth gritou, prestes a chorar - Parem de machucar ela!

-E-Ela vai dar um jeito... - Eyerin tentou acalmá-la.

Alejandro preparava um novo ataque. 
"Já cansei de vocês."
Minhas pernas não estavam presas. Levantei-as, aproveitando a imobilização dos dois garotos, e chutei o grandalhão à minha frente com toda a força. Aproveitando o momento de espanto dos garotos, acertei-os com meus cotovelos e me soltei de seu aperto.

-Ufa... - Eyerin suspirou.

Ferida, fui obrigada por meu corpo a me curvar. 

-Seus socos são bem firmes. - admiti - Mas agora acabou a brincadeira.

Reergui-me e movi o pescoço, estalando minhas juntas. Rodei um pouco meu ombro esquerdo, incomodado pela imobilização.

-Agora eu estou brava.

As duas meninas escolheram tomar distância. Sábia escolha.
A chuva aumentava sua intensidade cada vez mais. 

-Eyerin? Elizabeth? Vocês estão bem? - eu as procurei, colocando o braço na frente de minha barriga.

Eu não via nenhuma delas.

-Ela vai nos matar! Precisamos distrair ela! - o garoto carente por atenção disse.

Eles estavam arrastando minhas amigas para longe, carregando-as. Elizabeth se debatia, mas ela era muito fraca para conseguir se libertar sozinha. Já Eyerin... Eu conseguia nitidamente ver o seu medo.
Imperdoável.
As duas meninas sem importância alguma voltaram correndo para o prédio da escola, gritando como desesperadas.
Comecei atrás dos garotos. Eu irei dar uma lição e tanto neles quando pararem de correr.
Notei que o caminho ao qual seguíamos iria acabar nas área das piscinas. Sim, a escola tem uma pequena zona com duas piscinas grandes, rodeada por um conjunto de árvores. Nós nunca a usamos. Há uma lenda sobre um aluno que teria perdido a vida dentro de uma delas e, devido a isso, as piscinas não são mais usadas. Tanto por respeito ao seu espírito, quanto por medo de o incomodar, caso ainda esteja lá. 
Enquanto corria, o céu começou a emitir luzes brancas. A chuva estava muito feia, a ponto de relampear. Eu sentia um péssimo pressentimento.

-PAREM IMEDIATAMENTE! - eu os alertei.

Eu ainda estava dolorida. Por mais que tentasse, não conseguia correr rápido o bastante.
Estranhamente, eles pararam na beira de uma das piscinas. Em seguida, colocaram minhas amigas no chão, mas permaneceram segurando-as pelos ombros. 
Eles estavam me esperando?

-Até que enfim, Maya. Eu já conseguia ver você desmaiada no meio do caminho. - Alejandro falou.

-O negócio de vocês é comigo, deixem elas irem. - protestei.

-Por que deveríamos obedecer você? Sabemos que possui uma arma com você, não é mesmo? - o garoto do cabelo indagou com um sorriso no rosto.

"Estão falando da minha faca de descascar laranja? Eu não posso nem mais comer uma fruta nessa lugar sem ter uma imagem de assassina?!"
Mas... Talvez eu já a tenha usado para ameaçar algum deles. Mas era só ameaça!

-E agora, esse é o nosso passe livre para fugir. - eles começaram a soltar minhas amigas, lentamente.

Fiquei sem reação, não conseguia saber o que planejavam.
E então, eles agiram. Empurraram minhas duas amigas com tudo na piscina. 

-ELIZABETH! EYERIN! - eu corri até a piscina.

Ignorei completamente os garotos. Eles caminharam para longe de mim e começaram a gargalhar.

-DESÇAM LÁ E AS AJUDEM! EYERIN NÃO SABE NADAR! - briguei, revoltada.

-Vá você, Mão de Ferro. - o garoto da camisa sem mangas cruzou seus braços por trás da cabeça.

Eles não pararam de se distanciar.
Na piscina, Eyerin lutava contra a água, sem saber o que fazer. Por sorte, Elizabeth a agarrou, mas o pânico de Eyerin era grande demais, ela estava surtando. Nenhuma das duas saía do lugar.

-VOU DESCER ATÉ VOCÊS! - eu precisava gritar para ser ouvida. 

O barulho da tempestade ocultava minha voz.
As luzes oriundas das nuvens cinzentas aumentavam sua intensidade.
"Como uma tempestade dessas chegou tão rápido?!"

Eu estava pronta para pular, mas fui impedida. Um disparo de eletricidade acertou uma das árvores próximas da piscina. Em resultado, a árvore caiu. 

-Não. - fiz o possível para abafar meu grito.

-M-MAYA! - Eyerin gritou.

A árvore caiu sobre a piscina, exatamente em cima de minhas duas amigas.

-Não...

Nenhuma outra voz era ouvida. O barulho dos trovões e da chuva tomou conta do ambiente. 
Paralisada, eu continuava olhando para a piscina, esperando minhas amigas voltarem. 
Segundos passaram.
Minutos passaram.
Nenhuma das duas retornou à superfície.
Eu pulei na água e procurei por elas.
Mergulhei diversas vezes, retornando logo depois para pegar ar.
O desespero era imenso. Não conseguia pensar, não conseguia ver. Estava completamente dominada pelo desejo de encontrá-las vivas. Porém, quando eu as encontrei... Ambas estavam presas debaixo da árvore. Nenhuma reagia. 
Elas estavam congeladas, sem reação alguma, com seus olhos fechados. 
Tentei puxá-las, tentei salvá-las, tentei empurrar a árvore para longe. Não adiantou.

-Maya! - uma voz chamou, fora da piscina.

Eu a ignorei completamente. Elizabeth e Eyerin não podiam me deixar. Elas prometeram não me deixar!

-Maya! - agora era um coral de vozes.

Ergui-me para fora da água outra vez e prestei virei meu olhar para as pessoas que chamavam. Era um conjunto de professores. 

-Maya... - uma das professoras presentes pasmou.

-Suas amigas...? - agora, um dos professores perguntou, igualmente pasmo.

Voltei a ignorá-los e continuei a mergulhar.
Tchibum!
Alguém entrou na piscina junto comigo. 
Fui agarrada e trazida a superfície, contra a minha vontade.

-PAREM! EU PRECISO SALVÁ-LAS! - o desespero tomou conta de meu ser.

Que sentimento era esse? Eu estava... Com medo?

-Maya... Maya! - os professores insistiram.

-O QUÊ É?! - relutei.

-Elas estão lá em baixo a mais de dez minutos. É tarde demais... - o professor de biologia esclareceu.

-Não importa! Preciso... Preciso...!

Minha voz falhou.
"O quê?"
Eu havia esquecido de retomar meu fôlego. Acabei ficando fraca e perdendo a consciência.


...

Dias passaram.
Semanas passaram.
Em uma manhã, eu acordei e percebi a cruel realidade. Minhas amigas estavam mortas a dois meses. 
Depois do dia de seu enterro duplo, eu não pisei fora de minha casa. Fui isolada por mim mesma. Perdida e sem reação.
Muitos tentaram me ajudar. Meus pais, meus professores, as pessoas do colégio que não me odiavam... Mas nada mais importava. O motivo pelo qual eu ia para qualquer lugar possui nome. Dois nomes. Eyerin e Elizabeth.
A cada dia que passava, a insistência de meus pais aumentava. Eles queriam me ver fora de casa a qualquer custo. Mas, para onde ir? 
Para a escola? Lugar onde quase todos me detestam ou tem medo de mim?
Para as ruas? 
Para um shopping qualquer?
Não havia lugar onde eu me encaixasse.

-Maya, vamos...! - minha mãe batia na porta - Eu sinto muito por suas amigas, mas você precisa de ar puro, precisa seguir em frente!

"Ar puro. Foi para tomar um ar puro que saímos da classe naquele dia."
Fechei meus olhos e me forcei a adormecer.
Horas depois, encontrei-me acordada. Minhas memórias estavam bagunçadas. Imagens sambavam em minha mente, brincando com meu sentido de real e imaginário.
Eu via a sombra de uma mulher refletida em uma poça de água. Parecia tentar falar comigo. Logo depois, vi uma onda batendo contra uma pedra, na praia. As gotas de água respingaram na areia. Meu quarto começou a encharcar. 
Água lotou completamente o lugar, preenchendo-me até o busto. O volume não parava de aumentar. Fiquei submersa.

-NÃO! - gritei, colocando minhas mãos na cabeça.

A água havia sumido. O quarto estava completamente seco.

-Mente, você não vai ganhar de mim. - disse, ofegante. 

Fui para o banheiro e lavei meu rosto.
Sem querer, acabei fixando o olhar em mim mesma, encarando um espelho. O quê eu via com certeza não era belo. 
"O que devo fazer para manter minha sanidade mental?"
Ao pensar isso, minha barriga roncou.
"Eu não como desde ontem. Meus pais ainda não trouxeram comida..."
"Devo sair para comer?"
Voltei para minha cama e tapei meus olhos com as mãos. 

-Talvez eu deva... - suspirei.

Desanimada, troquei meu pijama por uma roupa comum - uma camisa púrpura estampada com uma pequena explosão, nas costas, e uma calça jeans. Não tive vontade de pentear os cabelos, e pouco me importava a opinião alheia.
Respirei fundo e abri a porta de meu quarto. A luz atribuída pelas janelas quase me cegou.
Vasculhei minha casa, em busca de meu pai e de minha mãe. Sem sinal algum deles. Provavelmente estavam trabalhando. Minha mãe é contadora e meu pai professor de matemática. Ambos amam números, ao contrário de mim.
Em cima da mesa, vi algumas notas de dinheiro e uma das chaves de casa. Eu as peguei e saí. 
"Com certeza não vão se importar."
Um pouco insegura, desci as escadas e, logo depois, abri a porta de entrada. 

-O mundo real. - suspirei.

Fechei a porta e a tranquei.
Comecei a caminhar pela calçada, em busca do primeiro fast-food que vendesse hambúrgueres. 
Acima de mim, o céu estava nublado, mas muito claro. Olhar para cima era desafiador. 
Ao meu redor, pessoas conversavam e seguiam seu rumo tranquilamente, despreocupadas. Enquanto isso, eu caminhava incerta de meu caminho. Nem mesmo sabia se era o momento certo para sair. 
"Talvez seja bom voltar..."
Não, já estou aqui. Não me dei ao trabalho de sair de casa para depois voltar de mãos vazias e corpo ainda mais desesperado por alimento.
Avistei uma lanchonete. Silenciosamente, atravessei a rua e entrei. Tentando não olhar para ninguém, entrei na fila. Ao chegar na minha vez, pedi um refrigerante e um hambúrguer - do maior tamanho disponível.
Procurei por um lugar vazio e sentei. Por coincidência, era o canto mais escuro do lugar. O lugar perfeito. 
Comecei a devorar meu lanche. 

-E foi assim que aconteceu, eu juro! - uma voz familiar disse.

Duas vozes riram, em resposta.
"Arg, por quê?"
Olhei para a entrada, disfarçadamente. Os três garotos acabaram de entrar. Alejandro e o desesperado por atenção 1 e 2. 
"Ótimo."
Tentei não prestar atenção neles e comer quieta.
Meu silêncio foi quebrado pelo pior som do mundo. O barulho da chuva. Lá fora, uma porção pequena de gotas de chuva caíam.
"Eu tenho muito azar."
Eu estava a poucas mordidas de transformar meu hambúrguer em um pedaço de nada, quando os três garotos me avistaram.

-Ei, aquela não é a Maya? - um deles disse.

-Ele não vai para a aula desde aquele dia. - Alejandro notou.

Levantei-me e andei na direção da saída.

-Maya? Espera, queremos falar com você! - o número 2 chamou.

Eu o ignorei e bati a porta atrás de mim. Inesperadamente, eles não desistiram e correram atrás de mim. Em resposta, eu corri para longe.

-Saiam de perto de mim, bando de...

Uma moto passou na rua ao meu lado, censurando minhas palavras com o barulho irritante que algumas motos fazem.

-Maya! - Alejandro chamou - Nós só queremos...

Ao meu redor havia uma rua, mais calçada e uma descida coberta por grama. Na tentativa de fugir de seus olhos, realizei a descida. 
Eu devia ter pensado melhor nisso. A chuva havia deixado o chão lamacento. Comecei a escorregar. 
Quando parei de me mover sozinha, eu estava próxima de um pequeno lago. Era a isso que a descida levava, afinal. 
"Eu realmente devia ter pensado melhor."
Porém, notei que eu podia me manter escondida aqui. Engatinhei para perto de um arbusto. Os três garotos continuaram correndo pela calçada.

-Onde ela foi? - um deles perguntou.

-Eu não sei, talvez... - e a partir dessa palavra, não consegui mais ouvir suas vozes.

Relaxei. Eles não estavam mais atrás de mim, mas em compensação eu estava suja de lama. Aproximei-me do lago.

-Não me agrada nem um pouco tocar em você, mas não posso voltar pra casa assim. - mergulhei minha mãos na água, lavando-as.

Em algum momento, senti uma pontada de dor.
"O quê?"
Tirei minhas mãos da água. Meu dedo estava sangrando.
"Como?"
Apertei meus olhos e procurei pelo motivo na água - ela era clara, por sorte. 
Era uma pedra.
Pus a mão na água e a peguei. 
Aparentemente, eu havia raspado meu dedo na pedra e causado o ferimento.

-Nunca vi uma pedra azul... Seria uma safira? 

Eu a analisei de perto, pouco ligando para as gotas de água que me acertavam. 
A pedra possuía um desenho dentro de si, exatamente em seu centro. Lembrava uma gota de chuva.

-O quê é isso? 

E então, minha cabeça começou a doer. 
Minha visão turvou-se. O mundo todo foi coberto por uma cor azul suja, aos meus veres. E então, tudo ao redor desapareceu. Tudo que eu via era água. Ondas de água.
Eu estava de pé, conseguia sentir isso, mas não conseguia ver meu corpo ou mudar meu campo de visão. Tudo que eu via era uma silhueta refletida na água. A silhueta de uma mulher.

-Bem-vinda. 

Sempre que falava a silhueta da mulher tremulava. Sua voz parecia causar perturbações no equilíbrio da água, provocando ondas.

-Você sabe aonde está? 

-Não. Quem é você? 

-Você vai diretamente ao ponto, não é mesmo? - a mulher opinou.

Sua voz era calma e suave.

-Eu não possuo nome. Pode me chamar do que quiser. Nomes não são importantes, afinal. 

-O quê quer comigo? Como fez isso?

-Maya, Maya, Maya... - a silhueta da mulher se moveu, ficando de lado.

Eu agora via seu perfil.

-Você está perdida, sozinha, solitária, com medo... Eu vim ajudar.

-Por que me ajudaria? Não faço ideia de quem você seja, e nunca fiz nada para você.

-Eu sou a Água. O elemento água, minha jovem. - a mulher esclareceu - E eu sinto muito por suas amigas. Elas morreram em meu domínio, então eu acompanhei sua triste história.

"Eyerin... Elizabeth..."

-Eu tenho uma proposta para você. Suas amigas... Quer ver elas novamente? - a voz convidou.

Meu coração quase parou de bater.

-Isso é impossível.

-Não, é possível sim. Para mim. 

Fiquei sem voz.

-Elas morreram em meu domínio. Cada alma que morre em meio aquoso possui ligação direta comigo. Elas ainda não renasceram, então é possível trazê-las de volta.

"Ainda não entendo. Por que está fazendo isso?" pensei, pois não conseguia forças para falar.

-Maya, um dia no futuro, você terá uma importante missão. Você terá novos amigos, e os ajudará a vencer um grande oponente. Isto é, caso consigam vencer. - a mulher expôs - Dentre muitas pessoas, fiquei comovida pelos seus sentimentos por suas amigas. Escolhi você para ser minha representante. Então vou emprestar a você meu poder. 

"Eu não... Entendo..."

-Há uma diversa seleção de pedras ao redor do mundo, minha jovem. Cada uma delas possui um poder especial. Algumas conseguem controlar mentes, outras conseguem mover objetos, outras conseguem criar matérias... Dentre estas pedras, seis recebem destaque.

"Que conversa é essa?"
-Escute, Maya! Um dia fará sentido. - a mulher alertou - Estas seis pedras possuem uma infinidade de poder ligado ao elemento que representam. 

"Pedras elementares?"

-Quase. São chamas de Pedras de Elementra, minha jovem.

"Você...?"

-Sim. Sou a pedra da água, Maya.

"Uma pedra que fala? E, espere, se estão ao redor do mundo... Quais as chances de eu encontrar você?"

-É uma boa questão. Vou responder essa pois gostei de você. As seis pedras possuem propriedades especiais. A pedra da terra gosta de se fixar em um único lugar, e lá ficar até ser encontrada. Mas ela não se deixa pegar tão facilmente. É necessário sobreviver a uma boa luta antes de tirar ela do lugar. - a mulher se moveu novamente, ficando de perfil para o lado oposto - A pedra do vento é volátil. Ela muda de posição uma vez por dia, sendo carregada pelo vento que gera. - sua silhueta tremulava mais a cada palavra - A pedra do fogo gosta de lugares com altas temperaturas, e só pode ser pega, pela primeira vez, por alguém que tenha afinidade com o fogo. Do contrário, seria impossível tocar nela. 

"Eu não estou entendendo muito bem..."

-A pedra da luz e da escuridão são opostas. A pedra da luz aparece para quem julgar ser merecedor de a encontrar, alguém de bom coração, destinado a fazer coisas boas ao mundo. Em contrapartida, a pedra da escuridão... Ela aparece para pessoas de má índole. Enquanto não tocada por alguém, ela se mantém escondida de todas as pessoas puras.

"Então... Uma única pessoa não pode ter todas as pedras?"

-Exatamente! Oh, e quase esqueço da mais importante. A pedra da água. Eu posso ser encontrada em qualquer lugar aquático, contanto que eu queira ser encontrada. Eu estou em todos os lagos, mares, oceanos e rios do mundo. Basta eu querer ser vista.

"Certo... O quê faço para ver minhas amigas novamente?"

-Essa é a parte delicada, Maya... Você não as verá. Elas estarão com você, dentro de você. Não tenho capacidade para criar corpos para elas, mas posso confiar suas almas a você.

Engoli em seco.
"Isso quer dizer..."

-Fundir a alma de vocês, Maya.

"Fundir nossas..."
"Almas..."

-Eu quebrarei uma parte de mim e a entregarei a você. Você será a usuária da gema de água. 

"Gema de água... Um pedaço da pedra da água..."
-Você aprende rápido. Estou contando com você, Maya.

"E quanto ao meu corpo? Vou dividir ele com as duas?"

-Você será vocês três, Maya. Você será Maya, Eyerin e Elizabeth. Seu nome será Merith.

"Merith..."

-Terá de deixar sua família. Esquecerá deles. Sua aparência mudará, também. - a mulher mudou sua postura novamente, ficando cara-a-cara comigo, por mais que eu não conseguisse ver nada além de um corpo de sombras refletido na água - Aceita minha proposta? Eu a guiarei a um lugar onde será aceita por pessoas boas, um lugar onde poderá viver como Merith. Merith Aquaticall Gemini.

"Eu..."


- - - - - - - - - - - 

-Merith, você conseguiu resolver isso? - Gen perguntou.

-O q-quê? E-Eu... - vasculhei por meu caderno - S-Sim!

Gen levantou de seu lugar e parou em minha frente. 

-Eu posso dar uma olhada? Eu não sou muito bom nessa coisa de trigonometria. - ele riu, nervoso.

-C-CLARO! - enrubesci - Digo... - tossi - Pegue.

-Valeu, Merith. - ele virou o caderno para si e começou a analisar minha solução - Hm... Faz sentido.

-O professor pode chegar a qualquer minuto, Gen. - Ingo alertou - Não coloque Merith em problemas!

Gen parou para pensar por um momento.

-Por algum motivo, eu sei que ele vai se atrasar por mais uns dez minutos. 

-Só pode estar brincando! Como pode saber disso? - Ingo questionou.

-Eu não sei. Intuição?

A porta da sala de aula bateu com força. Sakura chegou com um aviso.

-Gente, aparentemente a porta do professor emperrou. Vai demorar tipo dez minutos para tirar ele de lá. 

Nossos colegas vibraram. 

-E então, Ingo? - Gen riu.

-Copie as questões e depois passe para mim. 

As férias de julho haviam acabado. Ingo, Gen, Sakura e eu, por sorte, estamos na mesma classe. Tudo vai muito bem. Eu até mesmo ando com mais harmonia. Não tenho grandes trocas de humor a um tempo.
Tudo corria bem. 

-Hey, que tal irmos lá fora um pouco? - Ingo sugeriu - Está tão quente aqui dentro...

-Ingo, por algum motivo, acho melhor ficarmos por aqui. O professor pode voltar mais cedo... Melhor não arranjar problemas. 

-É... Talvez você tenha razão. - Ingo pensou alto.

...