quarta-feira, 27 de agosto de 2014

As Pedras de Elementra. Parte 2. Capítulo 13.




13. O Núcleo da Destruição.


-Quero que vocês estejam cientes de que essa missão é a mais perigosa de todas entre as que já passamos. Se alguém acha que não aguenta, eu não vou obrigar a ficar. - Kathryn esclareceu.

Estávamos reunidos em uma cidade devastada. Só restavam ruínas. Se o mapa ainda estiver certo, nós estamos muito próximos de nosso objetivo. Eu tinha certeza que ninguém fugiria. 

-Não se preocupe conosco. - Adrian pediu animado.

-Isso não é brincadeira. É algo bem sério, Adrian. Vocês podem perder suas vidas! Mas por um bem maior, é claro. - Misake o respondeu. 

Adrian parecia nem ter ligado. Ele estava confiante, muito confiante. 
Vi Kathryn se aproximar de Misake de repente, e sussurrar algo em seu ouvido. Misake permaneceu sério e pegou seu cubo, onde havia guardado suas máquinas. Ele começou a analisar as coisas que haviam dentro dele, procurando algo. E durante todo o tempo, Kathryn ficava me vigiando disfarçadamente. Ela não fazia isso muito bem.

-IAHOOOO! - um grito foi ouvido.

Ele vinha de cima de nós, mas o céu estava vazio, sem nuvens nem nada.

-Chegaram. - Kathryn anunciou.

"Estávamos esperando alguém?" pensei em dizer, mas soaria bem idiota, então fiquei quieto.

-Quem chegou? - Adrian perguntou enquanto coçava sua orelha.

Uma fumaça se espalhou pelo lugar, nos fazendo tossir. O vento estava forte, e a dissipou rapidamente. Quando conseguimos enxergar direito, vi duas meninas paradas a nossa frente. Uma tinha cabelos cacheados e escuros, com olhos mais escuros ainda, e usava um kimono preto. E a outra a seu lado também tinha olhos castanhos, porém tinha um longo cabelo liso, da mesma cor de sua companheira, e usava uma boina. Ela usava um kimono preto também.

-Selion e Adrian, estas são Annie - Kathryn apontou para a menina de boina. - e Stephie. Duas ninjas, se não conseguiram identificar. 

Notei que havia um lobo cinzento atrás delas. 

-Olá novos recrutas! Este é o Wulf. - Annie acariciou o animal.

Stephie nos encarava, ela parecia ser bem séria. Ela estava segurando uma foice.
Ouvimos alguns barulhos estranhos e nos viramos para ver o que era. Mais algumas pessoas se aproximavam. Eu reconheci uma delas.

-A quanto tempo, não? - Éolo nos cumprimentou.

Atrás dele, haviam cerca de 8 pessoas. Entre elas, alguns animais.

-Já chegamos? Já chegamos? - uma criança que aparentava ter uns 5 anos perguntava sem parar.

-Sim, sim. - a pessoa a sua esquerda respondeu.

A criança tinha cabelos loiros e tinha uma pele transparente. Ele flutuava no ar, ao lado de seu amigo. Parecia uma espécie de espírito ou fantasma, que usava um manto branco. Ele flutuava um pouco acima da cabeça de um garoto coberto por um capuz. Eu não conseguia ver seu rosto, mas ele segurava um cubo estranho que emitia um brilho vermelho.

-Estou notando pessoas novas aqui. - uma mulher ruiva disse, com um tom arrogante. - Trouxe novatos para o campo de batalha?

Ela se aproximou de Kathryn com uma espada enorme atrás das costas. Ela tinha arranhões em todo o corpo. Quando se aproximou, Kathryn sussurrou algo para ela. Eu não consegui entender o quê.

-Você já ouviu o nome Gar? - uma pessoa disse atrás de mim.

Eu me virei surpreso, mas não havia ninguém lá.

-Parece que sim. - a voz soou atrás de mim novamente.

Me virei novamente, e dessa vez vi um homem um pouco mais baixo que eu, usando roupas em tons de roxo e um chinelo. Seu cabelo era branco e seus olhos eram dourados. Ele me encarava de uma maneira estranha, como se pudesse ver atrás de mim.

-Você conhece Gar? - ele perguntou.

-Sim. Ele meio que tentou me prender em um sonho estranho, algo assim. - respondi.

-Sinto muito pelos problemas que ele causou. - ele se inclinou. - Por favor, entenda, ele não é mau... Só tomou decisões erradas.

-Que história é essa? - Melody se aproximou. - Esse Gar me prendeu em um lugar cheio de aranhas! Como ele não pode ser do mal?! 

-Meu nome é Gen. Gen Nightmare Baku. - ele se apresentou. - E Gar é meu irmão. 

-Eu não conheço você... - Melody falou.

-Eu entrei a pouco tempo para o grupo, com o objetivo de trazer meu irmão para o bem de novo. Ele foi corrompido, não tem culpa pelo que faz. - ele se explicou. - E sei o que está pensando, Selion. Eu não vou te prender em uma ilusão, não se preocupe.

-Ele é um psíquico. - a ruiva se aproximou e colocou a mão na cabeça dele. - Não se assuste, novato. 

Ela usava uma armadura vermelha escarlate que cobria uma parte de seu corpo. Seus olhos eram verdes e seu cabelo era comprido.

-Selion, esta é a Raida, líder do nosso grupo do Japão. - Melody explicou.

Raida me olhava de uma maneira séria. Era meio desconfortável. 

-Estão todos aqui. - Misake disse alto para Kathryn.

"Só isso? Um grupo de umas 15 pessoas para derrotar um exército inteiro?!" pensei preocupado. 
"Não conseguiremos vencer desse jeito... Ou será que sim?"

-Um minuto de atenção, por favor. - Kathryn pediu. - Estão reunidos aqui, as pessoas que acharam que tinham poder suficiente para derrotar a Grand Destruction. E hoje nós daremos um fim nessa guerra. 

Analisei as pessoas ao redor. Todos estavam sérios enquanto olhavam para Kathryn. 

-Nós somos a nossa principal linha de ataque. O resto de nossos companheiros irão chamar a atenção da Grand Destruction, e é nesse momento que iremos atrás de Aron. - Kathryn explicou.

Todos soltaram murmúrios preocupados.

-Aron? Aron está aqui? 

-Como ele se libertou?

-Ainda temos chances?

Kathryn bateu palmas para chamar a atenção de todos.

-Sim. Aron e Mellany estão livres. Mas provavelmente ainda não em suas formas físicas. Quando nosso exército atacar, eles vão se distrair e mandar suas tropas contra as nossas. Iremos diretamente até eles nesse momento. - Kathryn tentou os acalmar, enquanto terminava de contar seu plano.

-E quanto as pedras? - um homem de armadura, que segurava um machado, perguntou.

-Eu as usarei no momento certo. - Kathryn o respondeu sem pensar duas vezes.

"Ela estava mentindo para eles se sentirem melhor... Poucos de nós sabíamos que não tínhamos mais todas as pedras." 
Gen fez uma cara de espanto. 
"Ele não leu meus pensamentos, certo?" pensei comigo mesmo.
Ele disse que sim com a cabeça.
Os outros ao redor já haviam superado o susto, mas Gen sabia a verdade. 
Um barulho foi emitido. Misake pegou um aparelho que parecia uma moeda fluorescente. Uma tela holográfica foi emitida pelo aparelho.

-Estamos prontos! Ao seu sinal! - um homem de armadura notificou. 

-Estamos prontos. Vamos ganhar essa guerra! E vocês sabem que eu não gosto de perder. - Misake ordenou.

A mensagem desapareceu no ar.

-Vamos aguardar 5 minutos para agir. Se formos muito cedo vamos ser presas fáceis. - Kathryn explicou.

Todos estavam sérios e tensos, já segurando suas armas.
Ao meu lado, um cavaleiro parecia falar com sua espada. Ele usava uma armadura prateada e tinha cabelo escuro com olhos azuis.

-Sim, ele está conversando com a espada dele. - Gen respondeu aos meus pensamentos. - Aquele é o Yousuke. O braço direito de Raida, o escudeiro dela. Se você pensa que sua infância foi sinistra, nunca viu a dele.

Não precisei nem falar para obter respostas dele.

-A Grand Destruction dizimou a cidade dele... Seus amigos, família... Todos em uma única noite. Até onde sabemos ele foi o único sobrevivente. Quando Raida o encontrou ele já tinha essa espada, e dizia que ela podia falar. - Gen contou.

Observei sua espada. Sua lâmina era negra e havia um brasão em seu centro. 
Não muito longe de mim, Kathryn não tirava o olho de seu relógio. O tempo estava demorando para passar.

-Com licença? - alguém pediu. 

-Sim...? - respondi.

Era um garoto que aparentava uns 10 anos. Ele tinha uma expressão séria em seu rosto. Seu cabelo era loiro, um loiro bem claro que chegava quase a ser branco, e seus olhos eram verdes, um verde fluorescente. Ele vestia uma camisa azul turquesa e uma calça preta. Em seu ombro havia uma pequena criatura. Ela tinha seu corpo coberto por roupas de folhas. Eu identifiquei a raça da criatura imediatamente. Era um dos Leafos.

-É melhor segurar isso. - ele tinha uma flecha em mãos.

Eu segurei a flecha. Ela era macia, como se fosse feita de algodão, e em sua ponto havia um líquido vermelho.

-Por que me deu isso? Aliás, qual seu nome? - questionei.

-Ingo. Eu sou um artesão do vácuo. Coisas vem a minha mente e então eu as crio. Não me pergunte porque, mas essa é sua. - ele se explicou com poucas palavras.

Eu tinha a sensação de já ter visto aquele tipo de flecha antes, e não era a primeira vez que eu sentia essa sensação.
De um momento para o outro, um escudo apareceu nos braços de Ingo. Ele andou até Yousuke e o presentou com o escudo. Ele o aceitou e então agradeceu.

-Annie e Stephie vocês sabem o quê fazer. - Kathryn as ordenou.

Elas desapareceram no ar. Wulf, seu lobo, começou a correr na direção norte, como se estivesse indo trás delas.
Raida e Kathryn ainda me encaravam estranhamente. Quando perceberam que eu as tinha visto, elas trocaram olhares e fingiram que estavam falando entre si.
Qual era o problema delas?!

-Gen, quem são eles? - apontei para o menino de capuz e a criança flutuante.

Ele pareceu estranhar o que eu disse.

-"Eles"? - Gen perguntou. 

-Sim, "eles". O menino de capuz e a criança flutuante. Não consegue vê-los? 

-Eu só vejo o Yuuya. Não sei de criança nenhuma... - Gen coçou a cabeça.

Isso estava muito estranho.
Notei que Éolo estava logo a minha frente. Resolvi perguntar a ele se ele também não conseguia ver. Ele só via a pessoa de capuz.

-Gen... O quê ele é exatamente? - perguntei.

-Não sei, só sei seu nome. Nunca vi em combate. - ele respondeu rapidamente.

Eu o chamei e me aproximei. Minha ideia era perguntar diretamente para ele. Se ele não soubesse porque eu vejo aquele espírito, quem iria saber?

-Você é o Yuuya, certo? - perguntei.

Ele encarava o chão como se nem soubesse que eu estava ali.

-Olá... - ele permanecia com o olhar reto ao chão.

-Sabe... Têm uma espécie de espírito logo acima de seus ombros... Vim perguntar se você está ciente disso... - expliquei.

-Você pode vê-lo? - ele perguntou virando para mim, mas ainda sem levantar a cabeça.

A criança flutuante ficou intrigada e começou a flutuar próximo a mim.

-Como você pode vê-lo?! - Yuuya parecia não acreditar.

Dei de ombros. Se ele não sabia, como eu saberia?

-O quê você é? Uma espécie de médium? - perguntei.

-Eu... Sim, sim... Isso mesmo, médium. - ele respondeu estranhamente.

Aquilo não me passava muita confiança, mas de repente ele podia só estar meio confuso ou abalado pelo confronto que se aproximava. Eu que não iria culpá-lo.
Um vento forte começou a soprar e levantou um monte de areia, que acabou ofuscando minha visão. A nuvem de areia e poeira que se formou se dissipou rapidamente, e pude ver uma menina com um longo e liso cabelo preto usando uma jaqueta preta sob uma blusa azul. Ela tinha olhos verdes e usava em seus pés um par de botas pretas. 

-Eu cheguei! Me desculpem pela demora, surgiram contratempos. - ela se desculpou.

-Você chegou bem na hora, Troian. - Melody a respondeu. - Um pouco mais tarde e teria perdido a diversão.

-Como se eu fosse perder a derrota da Destruction. - ela riu.

Em seus ombros havia um gato preto, com olhos totalmente negros. Ela o acariciava enquanto se aproximava mais de nós.

-Olá, Dark! - Kathryn se aproximou dele e fez carinho no animal.

Um "bip" começou a tocar vindo de Misake. Ele levantou a cabeça com os olhos parecendo brilhar.

-Pessoal, chegou a hora. - Misake anunciou. - Vamos acabar com isso de uma vez!


...

A área devastada realmente era perto da base da Grand Destruction. Não demoramos nem 5 minutos para chegar até lá. Mas claro, usamos um feitiço para nos camuflarmos até lá. Eramos um grupo grande demais para sairmos desprotegidos.
Chegamos em uma espécie de pirâmide asteca que estava caindo aos pedaços.

-É isso? - sussurrei para Misake. - Essa é a base? 

-Sim. Vamos entrar. - ele respondeu.

Eu estava meio decepcionado. Eu esperava algo maior, muito maior.
A minha frente, Misake e Kathryn nos guiavam até uma entrada. Entramos por ela devagar, um de cada vez devido ao espaço pequeno. A entrada estava escura, mas foi ficando mais clara conforme andávamos. Quando paramos, eu fiquei chocado.

-Chegamos. - Kathryn sussurrou. 

Aquilo não era uma pirâmide asteca. Pelo menos não por dentro. 
Estávamos na entrada de um castelo. Um castelo enorme com um cubo maior ainda flutuando em cima dele, preso por correntes. Em volta do castelo havia um poço de lava. Tive que me controlar para não pular lá.

-U-uau. - Gen gaguejou. - É... Muita coisa para dar conta...

-Do quê está falando, Gen? - Melody perguntou. 

-Têm uma energia muito forte fluindo por aqui... Está me dando dor de cabeça! - ele se queixou.

-Deve ser a força espectral daqui... - Kathryn explicou. - Existem muitos membros da Destruction que usam espíritos corrompidos ao seu favor. Isso mexe com aqueles com poderes psíquicos.

Gen esfregava sua cabeça com uma cara péssima.

-Isso vai passar. - Kathryn o consolou.

-Logo você irá se acostumar... - Troian tentou ajudar.

Misake segurava uma arma estranha com uma esfera brilhante em seu centro. Se assemelhava a uma pistola, só que de uma maneira meio futurista. Ele continuou nos guiando até uma parede do castelo.

-Perfeito, sem muitos guardas. - ele disse enquanto usava um par de óculos de lente vermelha. - Melody, faça as honras.

Ela se aproximou da parede e a tocou com sua mão. A parede se desmontou e caiu no chão. Os olhos dela estavam púrpura.
Kathryn fez um sinal para Annie e Stephie. Elas balançaram a cabeça e atiraram kunais em alguns guardas inimigos que estavam desatentos. Eles caíram rapidamente. Porém mais guardas apareceram.

-Finalmente vai começar a ficar interessante. - Raida riu.

Ela correu na direção dos guardas e cortou o ar com sua espada na direção deles. Uma rajada de vento os derrubou, cortando suas armaduras.

-Incrível! - Ingo aplaudiu. - Opa, lá vem mais uma.

As mãos de Ingo brilharam, e cubos de gelo apareceram em sua mão.

-Essa eu não entendi... Porque cubos de gelo? - indaguei

Ele deu os cubos de gelo para Gen, que os colocou na boca.

-Parece que isso vai ajudá-lo a suportar a dor de cabeça... Ou então ele só estava com sede. - Ingo deu de ombros.

-Não temos tempo a perder. - Misake chamou a atenção de todos. - Raida vai cuidar desses guardas, vamos aproveitar essa chance para continuar!

Corremos em direção a uma entrada lateral do castelo. Annie e Stephie arrombaram a porta silenciosamente, e nós progredimos até um lugar que parecia ser uma prisão.
Haviam várias pessoas presas lá, implorando por libertação.

-Não devíamos ajudá-los? - pensei alto.

-Se os libertarmos agora, eles vão entrar em pânico e fugir, chamando a atenção, vamos voltar aqui mais tarde. - Misake respondeu virando o corredor.

Ele começou a andar mais devagar pelo corredor sombrio. Aquele lugar parecia uma casa assombrada que as pessoas montam no dia das bruxas, com símbolos macabros nas paredes, sinal óbvio de magia das trevas, paredes de pedra totalmente desgastada, sem falar da iluminação precária.
Nós seguíamos encostados a parede, atentos para qualquer coisa. Kathryn acelerou o passo e ultrapassou Misake.

-Vá com eles, eu vou atrás das pedras. - ela falou.

-O quê? E se as pedras estiverem com Aron? - Misake retrucou.

-Ele não as carregaria sem ter todas. Eu tenho certeza disso. - ela seguiu outra direção.

Misake seguiu seu rumo original, até pararmos bruscamente.

-Essa não... - ele murmurou.

Logo a nossa frente, havia um cão preso a uma coleira. Ele estava dormindo.

-Está com medo de um cachorro? Patético, sinceramente... - Éolo zombou.

-Quem não teria medo de um cão infernal? Ele pode estraçalhar você em segundos! Vamos devagar e com cuidado. Os mais barulhentos que vão voando. - Misake respondeu friamente.

Todos caminhamos com cuidado, evitando nos aproximar do animal. Yuuya não parecia muito preocupado com o cão, tanto que ele nem sequer viu o animal, simplesmente saiu andando sem ligar para ele. Troian atravessou o caminho em uma velocidade incrível, era como se ela estivesse se teletransportando.
Adrian foi o último a atravessar. Começamos a nos afastar devagar, até que um alarme começou a tocar. Meu coração parou nessa hora.
Um rugido foi ouvido, seguido de vários latidos.

-Não... - me virei devagar.

O cachorro vinha em minha direção dando passos curtos, aumentando de tamanho a cada passo. Seus olhos eram feitos de fogo, e a coleira. estava prestes a ceder.
Ele olhava para mim com uma raiva absoluta. Misake estava com os olhos arregalados. O cão estava prestes a me atacar quando Yuuya pulou na frente e o impediu.

-VÃO LOGO! - ele ordenou.

O cão o derrubou facilmente e ficou por cima dele, cara a cara. O capuz de Yuuya tinha abaixado. O lado direito de seu rosto era roxo e um chifre curvado para baixo saía desse lado. Seu olho direito não era humano, com toda a certeza. Não havia pupila, nem íris, só seu glóbulo ocular com uma cor vermelha escura. Seu cabelo era da cor preta e tapava seu olho esquerdo. Metade de sua boca era deformada com dentes enormes.

-Agora não preciso mais esconder mesmo... - ele falou com um sorriso no rosto.

O espírito que o circulava atacou o cão, o que possibilitou a escapada dele. 

-VOCÊ É UM DEMÔNIO?! - Gen ficou boquiaberto.

Misake o encarava com desprezo.

-Ele pode se virar, vamos! - Misake prosseguiu seu caminho.

Os outros o seguiram, mas eu e Melody ficamos para trás.
Uma foice com lâminas nos dois lados apareceu nas mãos dele.

-Vão logo. 

Eu me virei e segui o único caminho possível. Os outros estavam logo a frente e nós conseguiríamos alcançá-los facilmente. Eu continuei a os seguir. Mas ouvi um barulho estranho, um barulho que me fez parar. Eu prestei atenção. Não ouvi nada. 
Continuei meu caminho até alcançar os outros.
Chegamos no centro do castelo, uma área aberta cercada pelo edifício. Em seu centro, o enorme cubo preso por correntes flutuava vagarosamente.

-O quê é isso? - uma menina que vestia azul perguntou para Misake.

-Isto é o centro da destruição. Chegamos aqui exclusivamente para encontrar essa coisa. Peço que vocês... - Misake caiu no chão de bruços.

Todos se surpreenderam. A menina de azul, que segurava um cetro, se aproximou dele perguntando o que havia acontecido.
Ele não teve chances de conseguir falar. A causa veio direto até nós.
Usando uma roupa preta, e com seu cabelo preto como breu, Richard nos encarava segurando um leque diferente de seu anterior. Ele tinha espinhos na ponta e em seus lados. Seu olho que não estava coberto estava completamente escuro, sem cor.

-Richard... Foi você que fez isso?! - perguntei irritado.

-Quem mais seria? - ela estalou seu pescoço.

-O quê houve com você?! - Adrian exigiu saber. - Você não é assim!

-Agora eu sou assim, acostume-se. Porque eu não vou voltar. - ela abriu seu leque devagar e deu passos curtos em nossa direção.

-Merith, Ingo e Gen, levem Misake daqui até ele se recuperar. - Melody pediu. - Yousuke, proteja-os.

Merith, a menina com o cetro, Ingo e Gen a obedeceram sem questionar. Yousuke sacou sua espada e se posicionou a frente de Misake e dos outros.

-Eu não vou falhar. - foram as palavras dele.

-Você tem algum plano? - Annie perguntou.

-Vamos dar um jeito na Richard, fazer ela recobrar o juízo. Vocês tentam arrombar a entrada do centro da destruição. Ainda temos tempo antes de Aron voltar... Pelo menos eu espero. - seus olhos ficaram vermelhos, junto com a pontas de seu cabelo.

-Não esqueça de mim. - Troian respondeu.

As duas ninjas correram em direção do cubo, mas foram impedidas por Richard.

-Não é elas que você quer, não é mesmo? - Misake disse com dificuldade. - Eu sei exatamente... O quê você quer...

-É... Você tem razão... Como se essas duas insignificantes fossem fazer algo. - Richard riu.

Ela acertou as duas irmãs num golpe único e as duas foram jogadas para longe.
Richard tinha os olhos cravados em mim.

-Sabe... Eu já derrotei seres divinos antes... Mas você vai ser muito fácil. - ela zombou.

-Porque vocês não param de usar códigos?! Digam na minha cara o que isso significa! - respondi estressado.

Richard foi cercada por fogo. Fogo negro. 
Me transformei e parti para o ataque, mas segundos depois, caí no chão sem escamas. Sem fogo, sem garras, sem modo dragão.

-O quê houve...? - tentei me transformar novamente, mas minha transformação foi desfeita. - Q-que história é essa de voltar ao normal? Não falhem agora poderes, por favor! 

Eu sempre voltava ao normal segundos após a transformação. Eu continuei a tentar sem parar, mas chegou um ponto que não conseguia manter a transformação por míseros 2 segundos. 

-Você não consegue se transformar? O quê houve? - Melody parecia preocupada.

-Você está bem? - Troian perguntou.

Eu não sabia como reagir, diferente de outra pessoa. Richard havia aberto um grande sorriso malicioso em sua face. A cada passo que ela dava era possível sentir uma vibração sombria no ar, cada vez mais forte e mais densa. Ela ia em minha direção.
Eu não estava indefeso, mas me sentia muito mais fraco. Richard sumiu no ar. Neste momento, Polar apareceu carregando meu arco e Magna minha aljava.

-Recomendo que haja rápido. - Magna alertou. 

-Não podemos ferir Richard, é contra nossos princípios. - Polar explicou rápido.

Ambos desapareceram na minha frente. Entre as flechas que estavam na aljava, uma delas era a que Ingo havia feito. Eu escolhi outra flecha e fiquei atento ao meu redor. Melody e Troian estavam a fazer a mesma coisa. Melody tinha um círculo de fogo ao seu redor, e Troian estava parada com os olhos fechados, prestando atenção aos sons e movimentos ao seu redor. Um vulto se apareceu ao meu redor. Perdi uma flecha a toa.

-Se acalme. Foi por causa de situações como essa que te treinamos em mais de uma arte. - Melody tentou me acalmar.

Respirei fundo e me concentrei. Cada som, cada movimento, eu devia estar atento a isso. 

-Alguém não está mais tão confiante, não é? - a voz de Richard vinha de trás de mim.

Senti a presença dela a minha direita e a ataquei com uma das flechas, sem a necessidade do arco, porém nada aconteceu. Subitamente, ela apareceu do outro lado e cortou minhas costas com seu leque. 

-Selion! - Melody baixou um pouco sua guarda.

Neste momento, Richard surgiu atrás dela. Exatamente como eu queria. Ignorei a dor e atirei na sua direção. Richard agarrou minha flecha com a mão e a quebrou. Normalmente eu ficaria frustrado com isso, mas esta era uma ocasião diferente das demais. A flecha se explodiu na mão de Richard, o que a obrigou a recuar. Melody aproveitou o momento e a atacou com bolas de fogo, diretamente contra ela. 
Mas ela foi mais rápida e se defendeu com seu leque.

-Suas flechas diferenciadas vieram bem a calhar, Misake. - fiz um sinal positivo para ele.

-Foi tudo friamente calculado. - ele tossiu.

Merith estava com suas mãos e olhos brilhando, junto com os de Misake. Talvez o estivesse curando. 
Entre nós, uma esfera vermelho-sangue tremeluzente apareceu. Um selo estava no chão logo abaixo dela. Uma reta vermelha em minha direção surgiu no chão, e a esfera, que parecia pulsar, começou a me perseguir. Ela se multiplicou em duas e foi atrás de Melody e de Troian também. 
Misake atirou com sua arma em uma das esferas. Ela explodiu, soltando o mesmo fogo sombrio que cobria Richard, desintegrando o chão, sem ao menos tocá-lo.

-Certo... Temos problemas... - Gen engoliu em seco.

Eu comecei a recuar para trás, mas era como se eu fosse sugado por elas. Peguei uma flecha qualquer. Era a que Ingo havia invocado. Ela realmente parecia que não faria estrago algum.
Você é tão inútil... Não tem ideia do que fez...
A voz disse. Provavelmente era Richard tentando me amedrontar.
Eu merecia isto mais do que você...
Eu não conseguia me concentrar. Tentei me transformar novamente, mas não obtive resultado. Coloquei a flecha no arco com dificuldade, e a atirei na direção de onde tinha vindo a esfera original.
A flecha pegou fogo no caminho, e pareceu acertar alguma coisa em pleno ar. Um envolto de sombras, como se fosse um manto, caiu no chão e revelou Richard por baixo dele. As esferas se tornaram maiores e mais fortes.
Troian apareceu por trás de mim e me puxou para longe delas, me libertando, e após tomarmos distância, Melody atirou estacas de gelo contra as esferas, o quê as fez explodirem. O impacto nos empurrou para trás.
Richard apareceu com a flecha presa em seu braço. Ela se aproximou de nós com uma grande esfera de fogo negro ao seu redor. O chão se levantou, criando uma parede, mas o fogo o desintegrou sem deixar sobrar nada.
Troian pareceu ficar tensa, e presas apareceram em sua boca. 
Não iríamos conseguir pará-la desse jeito. Se nós não saíssemos dali, temo que um futuro nada agradável nos esperava. Richard cortou o ar em nossa direção, e fomos jogados para trás.

-Eu esperava mais de vocês... Não estão com medo de me machucar, não é? 

-Não podemos te ferir. - Melody a respondeu. - Mas nunca dissemos nada sobre te nocautear.

Misake surgiu por trás dela e a segurou pelos braços, impedindo de se mexer. Havia um símbolo em sua testa que não parava de cintilar.

-Gostou do truque? - Misake riu, superior. - Alguém pode fazer as honras?

O fogo que cobria Richard começou a sumir, até se apagar por completo. Aproveitando o momento, Troian se aproximou e apertou um lugar de seu pescoço, fazendo com que ela desmaiasse.

-Menos uma. - ela comemorou.

-Agora só faltam 8. - várias vozes a responderam.

Formando um círculo ao nosso redor, 9 pessoas nos encurralavam. Richard, que deveria estar inconsciente, começou a rir e então desapareceu. 

-A brincadeira acabou. - Richard estava entre as 9 pessoas. - O tempo de vocês está esgotando, e nosso Aron irá ressurgir. 

-Lembram-se de mim? Pois eu me lembro de vocês! Doces, doces memórias azedas! - Gar andava para trás em círculos.

-IRMÃO! - Gen o chamou.

-A... O zero à esquerda veio... - Gar levantou seu cabelo para enxergá-lo.

Gar não tinha olhos. Seu rosto era liso do nariz para cima, sem nem sobrancelhas. Gar acenou para seu irmão.

-Eu vou te matar. - ele sorriu.

Gen pareceu ficar amedrontado. Eu identifiquei as outras pessoas. Sylfer, Snape, Grandark e Lief. Ao lado deles, o menino que havia nos atacado na clareira nos encarava com uma cara tristonha. 
Havia mais uma pessoa, mas era impossível ver quem era. Seu corpo era formado inteiramente por um vulto escuro que tremulava no ar.

-Você está sem seus poderes, não é, Selion? Que peninha... - Gar fez cara de choro -De nada adiantaria mesmo... 

-Você não acha que isso não é uma luta justa? - Misake pegou uma de suas armas, sei lá de onde.

-Vocês vão achar um jeito de trapacear... - Lief revirou os olhos.

Enquanto eles matavam tempo com esse papo pré-batalha, Ingo se aproximou de mim e me entregou uma arma que parecia ser uma pistola, porém atirava flechas.

-Isto é uma besta, espero que ajude. - ele instruiu. 

Ele também me entregou uma flecha com a ponta dourada. 

-Mire na Richard. Só o que tenho para dizer. - ele sussurrou.

Ele girou as mãos e uma alabarda surgiu. Era como uma foice e um machado em uma só arma, tinha uma longa haste e uma grande lâmina no topo.

-Vamos dar uma chance para vocês. - Grandark anunciou. 

-Se eliminássemos tão rápido não teria graaaaaaçaaaaa! - Gar cantarolou.

Richard levantou as mãos e Annie e Stephie apareceram no ar e foram jogadas no chão com força.

-E-e-estávamos quase... - Stephie se desculpou.

Merith correu para ajudá-las. Ela estava segurando um frasco verde.

-Sobrevivam a mim e a Snape, e depois lidarão com o resto. - Richard deu um passo a frente.

Snape sibilou para nós. Os outros desapareceram, nos deixando sozinhos com eles.

-Isso é uma escada... - Misake observou. - Teremos que passar por cada degrau para chegar ao topo. Mas francamente, não havia ninguém melhor que o homem cobra ali? 

Snape permaneceu sério e sibilou novamente.
Ouvi latidos, vários deles. Yuuya apareceu segurando o cão infernal pela orelha.
A metade normal de seu corpo havia desaparecido quase que por completo. Aos poucos, ele estava virando um demônio completo. Seria isso uma coisa boa?
Eu fechei meu punho e agarrei a besta com força. 
"Eu vou fazer o máximo para finalizar tudo isso!" pensei confiante.
Ou então acabará se destruindo...


quinta-feira, 7 de agosto de 2014

As Pedras de Elementra. Parte 2. Capítulo 12 - Parte 2 (Melody)




12. Miragens de um pesadelo

Parte 2


Tentei pensar em algo. Não podíamos ficar parados esperando sermos atacados! De repente, Selion começou a correr em direção das sombras.

-Selion, o quê vai fazer? - perguntei.

-Tirar a prova. - ele respondeu.

Eu teleportei para sua frente, impedindo ele de continuar. Por um segundo senti uma força estranha ao meu redor. Devem ter sido as sombras.

 -Selion, isso é muito arriscado! Você viu o quê aconteceu da última vez que você tentou as coisas só pioraram. Vamos dar um jeito de sair daqui, mas confrontá-los assim não vai ajudar em nada. - expliquei.

Ele parou para pensar um pouco e recuou. Agora tínhamos que dar um jeito de sair desse lugar. Talvez se...

-Melody...? Está tudo bem? - Selion perguntou de repente.

Ele parecia preocupado.

-Estou sim... O quê houve? - estranhei.

Ele estava com uma expressão séria e preocupada.

-M-Melody? - ele chamou.

Algo estava errado. Mas o quê? Selion estava muito estranho... Seria culpa das sombras?

-O que deu em você? Melody?! - ele me agarrou.

-S-Selion? O quê esta fazendo? 

Ele olhou para trás de mim, e pareceu entrar em pânico. 

-MELODY?! - ele me virou e viu minhas costas.

"O quê está acontecendo com ele?"
E então, ele me abraçou enquanto repetia "Não" diversas vezes.

-Selion...? - eu o chamei.

Ele gritou meu nome com lágrimas caindo de seus olhos. Ele me abraçou mais forte, como se algo horrível tivesse acontecido comigo. Mais lágrimas escorriam de seus olhos, eu não aguentava vê-lo assim.
Seu corpo de repente começou a pegar fogo, mas ele não propagava calor, nem me machucava. Seu corpo se transformou lentamente. Suas escamas prateadas viraram vermelho-sangue, e suas garras cresceram. Antes que eu pudesse notar, as sombras nos cercaram e nos atacaram com um fogo sombrio. O fogo de Selion se espalhou e nos protegeu, como uma barreira.
Ele me colocou no chão com cuidado e se levantou. 

-VOCÊ NÃO MERECE VIVER! - ele gritou com as sombras.

Suas chamas se espalharam por todo o lugar, acertando até as árvores.
Eu me levantei e tentei pará-lo, mas minha mão o atravessou.

-O quê? - olhei para minhas duas mãos. 

"Eu... Não posso tocá-lo? Ele não pode ver o que estou fazendo...?" pensei.
Selion correu em direção das sombras e as atacou, e como esperávamos, foi inútil.
Senti a presença de uma terceira pessoa ao redor. Prestei atenção. Havia alguém atrás das sombras, eu não conseguia identificar o que ou quem era. A criatura se tornou mais nítida. Ele atravessava as sombras, se escondendo atrás dela, em direção de Selion. Tentei chamá-lo para avisar sobre o ser, mas ele não me ouvia.
As sombras rapidamente o cercaram, entre elas o ser ocupava um espaço da barreira. Será que Selion podia vê-lo?
Corri na direção do ser e o ataquei com estacas de gelo. Uma barreira apareceu e impediu o ataque. Mas eu não ia desistir de jeito nenhum. Conjurei uma bola de fogo, mas alguém me puxou, me interrompendo. 
Me defendi prendendo o ser em uma barreira de fogo. Me afastei e depois vi quem era. Era Lief.

-A quanto tempo, Melody. - ele ergueu a espada, e então absorveu todo o fogo através dela. 

-Lief? O quê faz aqui? - exigi saber.

-Eu só vim ver o resultado. Mas ao ver você indefesa desse jeito me senti mal, e vim lhe fazer uma proposta. 

-Você se uniu a Grand Destruction, eu não quero nada com você! - me afastei.

Ele olhou através de mim. Um sorriso se formou.

-Poderia ouvir o que eu tenho a dizer antes de me atacar? - ele pediu.

Olhei para trás depressa. Selion havia sido atingido por uma flecha. Ele rugiu de dor. Com um som alto e estridente, que ecoou por todo o lugar. Nem parecia que era ele. 

-Seu tempo está acabando. - Lief me apressou.

Eu o ignorei. Algo estava acontecendo com Selion. Seu corpo se envolveu em uma enorme esfera flamejante, ascendendo ao topo da clareira.

-Você não me deixa opção. - Lief resmungou.

Ele se aproximou rapidamente, provavelmente com a intenção de atacar. Eu desviei fácil e o joguei no chão acertando com uma esfera de gelo em sua barriga.

-Achou mesmo que foi uma boa ideia? Sinceramente Lief... 

Ele abriu um grande sorriso. Seus olhos ficaram dourados e então ele desapareceu no ar. Criei estacas de gelo ao meu redor, formando um escudo de espinhos.

-Onde você está? - perguntei séria. - Não é uma boa hora para seus joguinhos!

Eu vi dois pontos dourados flutuando. Atirei uma das estacas contra eles, e eles se apagaram quando a estaca se aproximou. Os pontos dourados reapareceram em outra direção, dessa vez mais perto. Ataquei novamente, conjurando bolas de fogo junto dessa vez. Eles desapareceram de novo. No céu, o fogo de Selion só aumentava. Todas as árvores começaram a queimar, muito mais do que antes. Um monte de fumaça começou a se espalhar. Estava começando a ficar difícil respirar.
Usei vento para empurrar a fumaça para longe de mim. Por enquanto ela não me afetaria. Mas eu tinha que parar Selion.
De repente, os pontos dourados apareceram a poucos centímetros a minha frente. Rapidamente, ataquei-os com as estacas. Mas, como anteriormente, foi inútil.
Ao longe, alguém estava me observando. Era aquele vulto que estava por trás da sombra. Agora eu podia vê-lo quase nitidamente. Ele tinha cabelo azul-escuro com mechas brancas, e olhos escuros como a noite. Ele tinha uma cara séria, como se não tivesse emoções. Ele usava uma camisa preta, e uma bermuda branca, por baixo de um manto negro que o ajudava a se camuflar no meio das sombras, mas que agora só fazia parecer que estava usando um vestido. Ele me encarava ao longe, segurando alguma coisa prateada. De repente, ele mexeu a cabeça para o lado direito. Logo após isso, senti alguém atrás de mim. Me abaixei e me levantei logo em seguida, dando uma cabeçada na pessoa.
Ele grunhiu e me prendeu com seus braços. Era Lief, mas com algo diferente.
Seus olhos além de estarem dourados, estavam com marcas estranhas a seu redor.
Eu já tinha visto aquilo em algum lugar, mas não era hora para me preocupar com isso. Tentei me teleportar para outro lugar, mas eu não consegui. Era como se eu não pudesse usar minha magia.
Eu vi as mãos de Lief. Elas emitiam um brilho azul estranho.

-Me solte. AGORA. - ordenei, tentando me libertar.

Ele estava muito mais forte, isso não era normal. Antes, eu poderia vencê-lo facilmente... Algo estava diferente nele, e aquelas marcas estavam envolvidas.

-O quê foi? - ele parecia olhar por dentro de meus olhos. - Não consegue se soltar? Eu já disse, venha comigo Melody.

-O quê foi? Não sabe perder? Eu já disse que não. 

Minha barreira de ar que mandava a fumaça para longe foi, repentinamente, dissipada. A fumaça se acumulou depressa ao nosso redor. 

-Sê você não colaborar, eu terei que usar a força para isso. - Lief ameaçou. - Eu gosto de você, Melody. É uma pena que você esteja do lado errado.

Ele tossiu algumas vezes. Aproveitei que estava fraco para me soltar e tomar um pouco de distância. Eu me sentia um pouco fraca.

-Eu não sou o mesmo perdedor de antes. A Destruição me mostrou um caminho melhor para seguir. E agora você não pode contra mim. Se renda, agora. - ele se aproximou devagar com passos pesados.

-Será mesmo? - ergui a terra por baixo dele, e o derrubei no chão.

Ele se levantou e abriu sua espada, e então correu em minha direção, cortando o ar em seu caminho. Eu me desviei, mas ele era rápido de mais, e acabou cortando o meu braço. Eu gritei de dor.

-Estou avisando. Eu não quero ter que acabar com você. - Lief reclamou.

Eu ia respondê-lo, até que olhei para cima e vi. A esfera flamejante que cobria Selion havia se tornado enorme. E ela continuava a crescer. Logo estaria perto do chão, e depois, nos queimaria vivos. As sombras ao redor pulavam em direção dela, tentando alcançar Selion, mas era inútil.
Eu tinha que fazer alguma coisa! Mas eu já tinha problemas de mais.

-Espantada? Porque acha que apareci aqui? Estou te dando uma chance de se unir a mim e se salvar. - Lief puxou meu braço machucado com força.

Eu gritei de dor mais uma vez. A sensação era de que meu braço estava sendo rasgado. Talvez seja porque ele realmente estava. Lágrimas de dor escorriam do meu rosto. 

-Seu desgraçado... - me levantei com raiva.

Duas sombras apareceram de repente e me prenderam. Cada uma segurava uma flecha, e ambas apontavam para minha barriga.
As sombras ficaram com olhos dourados, como Lief, e o mesmo brilho azul saía das mãos que me seguravam.
Elas afastaram as flechas devagar, e ameaçaram me atacar. 

-Vai vir comigo, ou não? - Lief perguntou pela última vez.

-Nunca nessa vida.

-Então nos vemos na sua próxima reencarnação. - ele se virou para trás. - Podem executá-la.

-NÃO! - eu gritei várias vezes, tentando me soltar.

A fumaça começou a me impedir de respirar, e eu comecei a tossir. Eu não conseguia usar magia alguma, e as sombras eram mais fortes que eu. 
Eu precisava de ajuda... Urgentemente.

-SELION! - chamei seu nome bem alto. 

Por um instante, a bola de fogo pareceu parar de aumentar. Mas logo ela voltou a incendiar mais e mais. Cada vez mais perto. E então, um som ensurdecedor invadiu o local. O lugar se iluminou por completo pelo brilho laranja do fogo, e as sombras desapareceram devido a luz forte, a inimiga natural das sombras.
Eu não sabia como reagir. Lief parecia muito bravo.

-Isso não é possível... - ele falou consigo mesmo.

Eu ouvi um rugido bem alto ressoar pelo lugar. O quê estava acontecendo?
Eu cobri meu corpo com uma proteção feita de fogo. Eu podia sentir que aquilo não ia acabar bem. 
Lief ergueu sua espada e apontou em minha direção.

-Me desculpe... Você está me forçando a fazer isso... - ele começou a correr, com a espada apontada para mim.

A espada absorveu todo o fogo ao meu redor. Eu ergui a terra ao redor e a usei para acertá-lo, mas foi em vão. Ele estava a poucos metros de mim quando a enorme bola de fogo explodiu. Ela encolheu, e se reuniu ao redor de Selion. Agora era possível vê-lo voando no centro da clareira. Eu ouviu outro rugido estridente. E então, o fogo que estava reunido ao redor de Selion se expandiu novamente, e explodiu para todos os lados. Exceto na minha direção e na de Lief. E, durante a explosão, algo caiu do centro da esfera de fogo, numa velocidade incrível, e parou exatamente na minha frente, pouco antes de Lief conseguir me acertar. 

-S-Selion? - eu temia ele ainda não conseguir me ver.

-Você brincou com fogo, Lief. Agora é hora de se queimar. - Selion disse sério.

-Até parece que eu teria medo de alguém como você. - Lief riu.

Lief atacou Selion com sua espada flamejante, enterrando-a em seu braço.
Selion nem se mexeu. Ele estava diferente. Seu modo dragão não estava como antes. Agora suas escamas estavam mais vermelhas do que nunca. Parecia que lava escorria em seu corpo. Suas garras estavam enormes.

-Você não deve brincar com dragões. - ele ameaçou.

Sua voz estava diferente. Estava mais grave que o normal, mesmo para um dragão.
Lief tentou retirar a espada de Selion, mas ela nem se mexeu.

-Você não está sentindo dor? - Lief começou a ficar preocupado. - É impossível você não estar!

Selion não respondeu. Lief tentava retirar sua espada do braço dele. Ela nem se mexia. Selion pegou a mão de Lief, e a apertou. Uma fumaça começou a sair da pele de Lief.

-AAARG, SEU DESGRAÇADO! - Lief gritou de dor. 

Ele finalmente conseguiu pegar sua espada, e depois se afastou de Selion. A mão de Lief estava vermelha.

-Selion? O quê houve com você? - eu perguntei.

Um som de tiro foi ouvido. Não muito longe de nós, o ser de antes apontava um revólver em nossa direção. Olhei na direção de Selion. O tiro havia acertado seu braço, no mesmo lugar que a espada de Lief. 
Ele não emitiu nenhum som, nem esboçou nenhuma reação. Simplesmente colocou a mão no braço, e viu seu sangue escorrendo. Então, mais fogo saiu dele, e ele voou na disseram do ser com o revólver. Ele tentou acertá-lo com as garras, mas ele desapareceu no ar, como uma assombração, e apareceu atrás dele, com o revólver encostado em suas costas.

-Desista. - sua voz soou seca.

Selion explodiu em fogo, o que afastou o inimigo. Ele estava fora de controle, eu tinha que pará-lo!
Lief agarrou meu braço.

-É a sua última chance. 

Um portal estranho se abriu atrás dele. Ele realmente queria que eu fosse com ele.

-Eu não vou deixar ele sozinho aqui. - eu me soltei.

-Me perdoe... Mas eu preciso que vá comigo. - ele se irritou.

Ele me empurrou na direção do portal.
Eu me soltei facilmente, mas ele não desistiu. Ele sacou sua espada.

-Se você me obrigar a fazer isso, eu farei. - ele me ameaçou.

Ele erguei a espada e me atacou. Eu me defendi.

-Vai precisar de mais do que isso para... - senti algo me agarrar e então me prender.

Duas sombras. 
Selion começou a me encarar. Ele podia me ver? 
O brilho azul das sombras voltou. E dessa vez estava me machucando. Eu me senti muito fraca, e caí no chão. No momento que eles me deixaram cair, usei o restante de força que tinha para me teleportar para longe. Mas não consegui chegar a uma distância segura.
Outro barulho de tiro. Me virei na direção do ser com a arma. Eu não conseguia vê-lo. Selion estava na minha frente, com um tiro no meio do corpo.
Ele caiu no chão. 

-Selion! Você está bem?! - me aproximei para ajudá-lo.

Quase me queimei ao tentar tocar nele. 
Ele se levantou de repente, sem mexer o braço que foi atingido pela primeira bala, e cravou suas garras no chão. Lava saia de seus olhos, e ele pareceu ficar maior.
Um enorme buraco se abriu abaixo de nós, com um brilho laranja intenso.
Nós dois caímos. Ele não parecia estar preocupado com isso. Suas escamas desapareceram, e ele foi encoberto por fumaça por causa de seu corpo pegando fogo. Ele desmaiou.

-Selion? ACORDA! - tentei acordá-lo.

Olhei para cima. O ser de antes nos encarava com indiferença, enquanto o buraco no chão ia se fechando. 

-Reap. - ele disse. 

"Reap?"

-Walpurgisnatch. - ele completou.

O buraco se fechou, e eu e Selion pousamos em um local com grama.
Tudo havia acabado. Sem fogo. Sem sombras. Sem Lief.

-Você está bem? Acorde, por favor! - eu tentei acordá-lo.

Ele permanecia imóvel. 
Analisei seu braço. A bala estava presa em seu braço, mas não havia nenhuma ferida aberta, ou algo preocupante.

-O quê... Foi isso? - eu o via inconsciente.

Observei ao redor. Estávamos em um campo aberto, que parecia familiar.
Ele começou a se mexer. Lágrimas escorriam de seus olhos.

-Você está... Chorando...? 

Ele murmurava algo para si mesmo. Eu não conseguia ouvir direito.

-Eu... Vi você morrer... Na minha frente... - consegui ouvir.

Ele disse que me tinha me visto morrer... Então ele ficou invocado daquele jeito por minha causa?
Eu senti estar sendo observada. Olhei ao redor, mas senti uma tontura, e alguma coisa me forçou a cair no chão. Meus olhos estavam querendo se fechar.

-O-o quê...? 


...

Quando abri meus olhos, estava deitada em um lugar bem iluminado. Eu sentia uma paz e harmonia ao meu redor. Não era possível explicar. Selion estava deitado ao meu lado. Ele parecia melhor que antes. Já havia voltado totalmente ao normal. Exceto por uma marca estranha em sua testa. Eu nunca vi algo como aquilo antes. Parecia um símbolo.
Tentei me levantar, mas ele segurou minha mão.
Ele ainda estava dormindo.

-Me perdoe... - ele sussurrou. 

-Te perdoar? - perguntei.

Mas falar era inútil. Ele ainda estava a dormir. 
Ele me abraçou forte.

-Eu... Não consegui te manter a salvo. 

Eu não sabia como reagir a aquilo. 

-Eu te amo, mas não consegui te proteger... - ele murmurou.

"E-ele disse que me ama?"
Ouvi passos e folhas sendo pisadas. Fiquei alerta.

-Não... Ainda não quero acordar... - Selion murmurou.

-P-Pare com isso! - pedi.

Uma pequena criaturinha apareceu nos observando. Parecia um pouco com o Polar e a Magna, mas vestia roupas de folhas e tinha uma espada de graveto atrás dele. Seus olhos brilhavam.

-Oi. - ele sorriu. - Desculpe interromper o momento meigo de vocês.

-O-o q-quê? - me levantei.

Selion abriu os olhos.

-O quê está acontecendo...? - ele perguntou meio zonzo. - Melody...? Porque você está como um tomate? 

Eu escondi minha cara, envergonhada.

-Espera um pouco... MELODY? - Selion despertou. - VOCÊ ESTÁ VIVA?

Ele me abraçou forte. 

-EU PENSEI QUE TIVESSE MORRIDO! Por favor, nunca mais morra de novo! 

A criaturinha de folha se aproximou de mim.

-Ainda está sob o efeito do calmante. Ele vai se expressar bastante. - ele explicou.

-Como assim? Calmante? Quem é você? Onde nós... - comecei a perguntar.

-Vou ajudar vocês assim que terminarem. - ele explicou.

Ele era do tamanho da minha mão. Ele fez sinal de silêncio, e depois se afastou dizendo que iria nos deixar a sós para "nos conhecermos de verdade". 
Tantas perguntas... Nenhuma resposta.

-Selion... O quê aconteceu com você? - perguntei.

-Você... Morreu... Aquela hora, uma sombra minha matou você... Eu perdi o controle. Perder você foi... Horrível... - ele explicou.

Ele olhava para mim como se ainda não acreditasse que eu fosse real.

-O meu fogo ia te machucar, não ia? - ele perguntou.

-Sim, mas você conseguiu parar antes que fosse tarde demais. - expliquei.

-Eu quase perdi você... 

Ele ainda me parecia meio zonzo. Seria por culpa do tal calmante que o folhinha disse?

-Me desculpe por fracassar com você. - ele se desculpou.

Ele estava culpado. 

-Foi só uma ilusão, você não tem culpa. - tentei ajudá-lo.

Ele olhou no fundo dos meus olhos. 

-Quando eu te perdi, eu perdi o controle. Meu lado dragão explodiu, porque eu fiquei emocionalmente instável. E quando isso aconteceu, eu descobri uma coisa. - ele disse.

Perguntei o que era.

-Eu descobri... que eu amo você. - ele respondeu com dificuldade.

Nós dois ficamos quietos.

-Selion... Eu... - tentei falar.

Ele se aproximou de mim devagar e me beijou.
Um flash foi emitido.

-Momento registrado! - Magna segurava uma câmera.

-M-MAGNA?! - eu e Selion nos assustamos.

-Oie. Vim buscar vocês! - ela se aproximou flutuando. - Depois eu explico como cheguei aqui. Mas olha só vocês dois aí... Não podem ficar sozinhos. - Magna riu.

-N-não é o que... - Selion desmaiou.

-Antes que se preocupe, isso foi a última fase do efeito do calmante que os folhinhas deram pra ele. Quando ele acordar de novo, vai estar de volta ao normal. - Magna explicou. - Mas e então... Vocês dois, hein...?

-CALADA! 

Magna riu. Ou pelo menos fez um som de risada. Era difícil saber se estava rindo, ela não tinha boca. 
Eu vi Selion dormindo e me lembrei do estado em que ele ficou na clareira de antes. Aquilo não era normal para um dragão comum. Com certeza não.


...

-Obrigado pela ajuda. - Magna agradeceu a pequena criatura.

-Ora essa. Sua raça é prima da nossa. Seus amigos são nossos inimigos! Opa... Não é bem isso... - ele se confundiu.

O nome dele era Grim. Ele disse que nos atacou, pensando que fossemos agressores ao seu santuário de harmonia. Isso explicava a tontura que senti.
A raça dele, os Leafos, são como seres de folhas. Obviamente, parentes do seres magnéticos, Polar e Magna. 
Ele bem que podia ter perguntado alguma coisa antes de ter nos atacado. Mas não vou reclamar, até que não foi tão ruim.

-Vamos, Melody. - Selion chamou sorrindo.

Ele não se lembrava de nada que fez enquanto estava sob o efeito do calmante. Eu não sabia como contar para ele.
Eu o segui, e fiquei a frente do portal que os Leafos criaram.

-Desculpem-nos pelo mal entendido. Boa assaltagem. - Grim se despediu.

-Viagem. - Magna o corrigiu.

-Isso, claro, tanto faz. - ele deu de ombros enquanto balançava seu galho, nos dizendo tchau.

Magna atravessou o portal e depois voltou, nos avisando que era o lugar certo. 
Dei um passo a frente e parei.

-O quê houve? - Selion perguntou.

-Nada... Deixa pra lá. - respondi.

Poucos segundos depois, estávamos de volta a nossa casa. Kathryn veio correndo até nós, muito preocupada.

-POR ONDE ESTIVERAM?! VOCÊS SABIAM QUE PODIAM TER MORRIDO?! - Kathryn brigou, preocupada.

-Por onde andaram?! Ficamos preocupados! Não tínhamos rastro de vocês! - Sakura exigiu saber.

-É uma loooooonga história... - Selion explicou. - Mas... Eu não lembro de boa parte dela...

-Eu lembro. E acho que... eu não vou esquecer...